segunda-feira, 23 de maio de 2011

O Mito da Caverna, na sociedade e no cinema.

     Presente no livro VII de "A República", o Mito da Caverna escrito por Platão permanece atual mesmo depois de séculos que foi concebido, além de gerar discussões, diversas interpretações e  mesmo com um mote  aparentemente simples essa história nos faz refletir sobre o mundo que vivemos. Imaginemos pessoas acorrentadas desde seu nascimento à rochas dentro de uma caverna e com um raio de visão limitado à uma parede dessa caverna. A única coisa que essas pessoas vislumbram (ou seja seu conceito sobre o mundo) em seu confinamento são sombras projetadas na supracitada parede. Quando uma dessas pessoas é libertada de seu cárcere e tem a chance de conhecer tudo o que está fora da caverna tal indivíduo não irá acreditar em nada que lhe será dito apenas naquilo que via nas cavernas e entende como o mundo. O que pode libertar a mente dessa pessoa quando este passar e explorar o exterior da caverna é o conhecimento. 
     O conhecimento pode desmistificar os conceitos do indivíduo outrora acorrentado e lhe mostrar que aquelas sombras não passavam de uma ilusão. Contextualizando O Mito da Caverna para a sociedade contemporânea existem várias instituições- como religião ou meios de comunicação em massa somente para citar alguns exemplos- que limitam o potencial de absorção de conhecimento da maioria das pessoas que assim como os personagens da obra de Platão irão rechaçar qualquer conceito diferente daquele em que acreditam. O conhecimento que segundo Platão é essencial para a evolução das pessoas faz parte de um complexo mundo denominado intangível ou metafísico ( do grego meta = além e physis = físico, ou seja o mundo além do que é físico), sendo o mundo tangível abrangido por tudo aquilo que podemos tocar, cheirar etc. e acredito que a  simbiose entre estes dois mundos resulte em nosso cotidiano.
    Como um simples exemplo imagine uma cadeira, agora imagine que você mova essa cadeira feita de madeira de um ponto denominado A até um ponto denominado B. Até mesmo este simples ato nos mostra a combinação entre o mundo tangível e o intangível, explica-se: a cadeira é feita de madeira e ao tocá-la, ao movê-la isso acontece no mundo físico e para que isso aconteça é necessário que a pessoa pense, tenha a idéia de mover a cadeira e antes disso foi necessário que essa cadeira fosse fabricada e a idéia de fazê-la partiu de um propósito oriundo de um mundo que não pode ser tocado mas que se expressa quando movemos o objeto. Os propósitos, as idéias precisam ser expressos no mundo físico e este por sua vez precisa do mundo intangível para que não tomado por um total imobilismo. 

Matrix e A Origem-Entrando na caverna

     Além de vertiginosas e empolgantes cenas de ação os filmes Matrix (idem, 1999) e A Origem (Inception, 2010) possuem em seus excelentes e elaborados enredos várias citações à filosofia mas o que acredito serem os temas principais dessas obras remete até O Mito da Caverna.
    No filme de 1999, a humanidade encontra-se escravizada por máquinas dotadas de inteligência artificial (desenvolvida por homens) e essa inteligência se desenvolveu em um nível tão extremo que as máquinas se tornam capazes de simular um mundo virtual que os seres humanos ( presos através de uma espécie de hibernação constante muito semelhante às correntes na caverna descrita por Platão) consideram real. Somente "O Escolhido" , ou seja, uma figura messiânica representada por Neo (Keanu Reeves) pode conscientizar a humanidade e por um fim à guerra contra as máquinas. Entretanto com as mentes presas à Matrix os seres humanos tendem a se tornar protetores do que acreditam ser sua realidade pois não possuem o conhecimento da situação em que se encontram, voltando-se contra uma pequena parcela da humanidade que sabe exatamente o que está acontecendo .
     Já no filme de 2010, escrito e dirigido por Chistopher Nolan desde o princípio o personagem Dom Cobb (Leonardo Di Caprio) enfatiza o poder de uma idéia dizendo que trata-se do mais poderoso dos parasitas, que uma vez que uma idéia toma conta de uma mente é quase impossível erradicá-la. São as idéias que impulsionam Cobb, seja roubando-as ou tentando inserir uma nova na mente de Robert Fischer (Cillian Murphy) o trabalho dele baseia-se em invadir sonhos, também parte do mundo intangível, para que as atitudes sejam tomadas no mundo real. O protagonista enfatiza que idéias podem definir ou destruir (caso de sua esposa Mal, interpretada por Marion Cotillard) uma pessoa pois conhece a fundo as implicações que as mesmas tem sobre os atos dos seres humanos. Além dos fatores acima listados os filmes também apresentam similaridades no que diz respeito à separação de corpo e mente e ambos pregam que um não existe sem o outro.
     O que escrevi acima demonstra um pouco do que penso sobre o mito da caverna e suas influências mas cabe a cada pessoa interpretar a obra de Platão a seu modo. A grande questão é: as pessoas presas na caverna seriam mais felizes vivendo fora dela?

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