sexta-feira, 23 de julho de 2021

E se...?

Muitas vezes nos deparamos com esse questionamento e pensamos sobre como seriam nossas vidas se em determinadas bifurcações e encruzilhadas de nossas jornadas tivéssemos tomado um rumo diferente. A grande dúvida oriunda dessa questão consiste em nunca termos a oportunidade de obter uma resposta satisfatória pois não saberemos se a decisão tomada foi mesmo a melhor possível e, sendo assim, só nos resta aprender a conviver com as consequências de nossas escolhas. Mesmo que a questão título deste artigo seja inerente a todos nós individualmente, no decorrer dos anos ela surge em âmbito coletivo com dúvidas acerca de acontecimentos históricos. Como a arte é um reflexo da sociedade em que está inserida, esporadicamente alguns cineastas, valendo-se do poder das imagens e dos recursos narrativos proporcionados pela sétima arte para concretizar suas visões, nos apresentam histórias cujo mote tem por objetivo nos apresentar uma alternativa à celebres fatos históricos.

Diferente dos filmes baseados em fatos que se apoiam em acontecimentos notórios e por vezes tomam liberdades artísticas para uma melhor apresentação do resultado final, os diretores Quentin Tarantino e Dany Boyle apresentaram 3 filmes cujas premissas partem de um “e se?” para contar suas histórias e nos conduzem por tramas capazes de nos apresentar a uma espécie de “universo paralelo” em que é capaz vislumbrar o final antecipado da II Guerra Mundial, a atriz Sharon Tate não sendo assassinada pelos membros da Família Manson e um mundo sem a existência dos Beatles.

Lançado em 2009, escrito e dirigido por Quentin Tarantino, o filme “Bastardos Inglórios” é ambientado na França ocupada por nazistas em 1944 durante a II Guerra Mundial. Nesse cenário entram em cena os “Bastardos” do título, um grupo de soldados de elite composto por judeus americanos que utiliza-se de técnicas de guerrilha para impor terror psicológico aos soldados alemães. Com a oportunidade de acabar com todo o alto comando do Terceiro Reich durante a estréia de um filme sobre as proezas de um jovem soldado alemão os Bastardos irão contar com a ajuda inesperada de um Coronel traidor da SS para exterminar Adolf Hitler e seus auxiliares mais próximos.


Já em 2019 Tarantino lançou o filme “Era uma Vez em...Hollywood” em que acompanhamos  as rotinas do ator decadente Rick Dalton (Leonardo Di Caprio), seu dublê e melhor amigo Cliff Booth (Brad Pitt) e da estrela em ascensão Sharon Tate (Margot Robie). Durante 3 dias do ano de 1969 esses personagens tão ligados ao cinema mostram ao espectador toda a aura hollywoodana da época. Se em 9 de agosto daquele ano o destino de Tate e de todos que estavam em sua casa foi trágico quando foram assassinados por 3 membros da seita liderada por Charles Manson, o filme Tarantino reserva à atriz um futuro tranquilo quando os assassinos entram na casa ao lado e encontram Cliff junto de sua pitbull Brandy e Rick dispostos a impedir que os seguidores de Manson obtenham êxito em sua maligna empreitada. Como a vingança é um tema recorrente na filmografia de Tarantino e a violência uma de suas características mais marcantes é através deste elemento que esses dois filmes geram suas catarses e nos fazem, mesmo que naqueles minutos, sentir a satisfação de saber que naquele universo as vítimas do nazismo e de Manson estão a salvo.


Também de 2019, com roteiro de Richard Curtis e direção de Danny Boyle, o filme “Yesterday” conta a história de Jack Malick (Himesh Patel) um cantor e compositor que auxiliado pela amiga e empresária Ellie ( Lilly James) tenta alcançar o estrelato. Depois que o mundo todo sofre um apagão misterioso por 12 segundos, Jack é atropelado e ao recuperar a consciência percebe que somente ele tem lembrança de muitas coisas de nosso mundo como Coca-Cola, cigarros e principalmente a banda Beatles. Utilizando sua memória Jack passa a “compor” as canções do quarteto de Liverpool  e alcança a fama e sucesso que tanto almejava. Engraçado nos momentos que o protagonista vai descobrindo aos poucos que somente ele sabe sobre marcas famosas que fazem parte de nosso cotidiano e tocante nos momentos musicais mais intimistas, Yesterday também levanta questionamentos morais quando Jack percebe que seu sucesso não é fruto de seu talento e  se ele é  merecedor de tudo que conseguiu utilizando as canções escritas por John Lennon e Paul McCartney. Além de ressaltar a importância da banda um dos méritos do filme de Boyle é nos fazer refletir sobre a ausência dela.

Enfim, esses são apenas alguns exemplos da arte como transformadora da história e cabe a cada um de nós aprender a conviver com nossas escolhas e também com escolhas alheias que nos afetam diretamente. Como o questionamento é importante, mesmo podendo aprender com os erros cometidos no passado e mesmo acreditando ter tomado a melhor decisão sempre iremos nos perguntar “e se?”.

Concordando ou discordando de minhas palavras, gostando ou não dos filmes aqui mencionados apenas pense: e se eu não tivesse lido este texto?