domingo, 22 de julho de 2012

O Quase Espetacular Homem-Aranha

  
   Quando o grupo Disney comprou a editora Marvel Comics no ano de 2009, diversos estúdios cinematográficos que possuem direitos de produção de filmes baseados  nos personagens da chamada "Casa das Idéias" aceleraram a produção de seus filmes pois quando seus contratos expirarem somente os estúdios Disney poderão levar às telas tais adaptações. Esse processo fez com que a Sony apressasse a produção do quarto filme de sua franquia mais rentável na primeira década dos anos 2000, "Homem-Aranha".
     A tarefa não seria fácil pois mesmo sendo um sucesso de público o terceiro filme da série foi alvo de inúmeras críticas pois o declínio de qualidade em relação ao segundo filme da trilogia deixava claro o ambiente conturbado em que o diretor Sam Raimi teve que desenvolver sua obra perante as imposições dos produtores, somente para se ter uma idéia Raimi não pode utilizar o vilão que queria e teve que filmar cenas de ação sem um roteiro finalizado. Temendo que o quarto filme tivesse o mesmo rumo de "Homem-Aranha 3", Raimi abandonou o projeto e, sem poder contar com o diretor, Avi Arad   o produtor da franquia resolveu que era hora de fazer um reboot, ou seja, um reinício da história do Homem-Aranha nos cinemas.
     A primeira providência era fazer um filme em 3D pois Avatar, de James Cameron mostrou que filmes nesse formato são extremamente lucrativos. Em seguida Arad contratou o diretor Marc Webb, egresso do sucesso de 500 Dias com Ela para que o filme ganhasse um tom de comédia romântica equilibrado com drama como Webb mostrou que era capaz de fazer. O ator escolhido para viver o protagonista Peter Parker/Homem-Aranha foi Andrew Garfield e quando todos achavam que a bela ruiva Emma Stone encarnaria Mary Jane Watson foi divulgado que ela seria Gwen Stacy. O restante do elenco deu mais credibilidade ao projeto: o veterano Martin Sheen no papel de Tio Ben, Sally Field como Tia May, Denis Leary como o pai de Gwen e chefe de polícia Cap. Stacy e Rhys Ifans como o Dr. Curt Connors que mais tarde se torna o vilão Lagarto. No entanto com os lançamentos dos trailers uma preocupação ficava latente e não era com o elenco ou com os efeitos especiais mas sim com algo essencial: o roteiro.
     Desde o começo o filme tenciona desenvolver a personalidade Peter Parker através da perda misteriosa de seus pais e liga a morte (ou sumiço) de Richard e Mary Parker com pesquisas científicas desenvolvidas na empresa OSCORP. Vivendo com os tios e sofrendo humilhações constantes na escola tudo muda na vida de Peter quando ele é picado por uma aranha (resultante do cruzamento de diversas espécies do aracnídeo) adquirindo as habilidades do inseto e seu tio Ben é assassinado. Decidido a buscar o responsável pela morte do tio e descobrir respostas sobre seus pais -e sobre si mesmo- Peter se torna o combatente do crime conhecido como Homem-Aranha e passa a desenvolver trabalhos na Oscorp junto com o  Dr. Curt Connors.
     O maior problema do novo filme do Amigo da Vizinhança é a falta de coesão da história. Tramas aparentemente primordiais são abandonadas sem maiores esclarecimentos, relações fundamentais na vida de Peter são mal desenvolvidas ou não ganham a atenção necessária na jornada do herói. O que também atrapalha é descaracterização de personagens em relação às suas contrapartes dos gibis e falta também a dramaticidade que é tão importante na formação de Peter Parker pois é todo seu sofrimento que irá transformá-lo em um herói. Todos esses problemas ocorrem devido ao fato dos produtores tentarem inovar a história para que ela não ficasse muito semelhante à do filme de original de 2002.


     É claro que o filme também tem seus acertos. A relação entre Peter e Gwen ( uma personagem que sofre com os riscos de morte enfrentados pelos homens que ama) é um dos pontos fortes pois a garota além de bonita é essencial o amadurecimento de seu namorado e o ajuda em um momento crucial. A qualidade do elenco  dá mais força à trama, vale ressaltar que as falhas do filme nada tem a ver com os atores. O senso de humor do aracnídeo está afiado e suas piadas em profusão servem para irritar bandidos, o vilão Lagarto e divertir a platéia. No aspecto visual o filme é bem trabalhado pois a movimentação e as poses do Homem-Aranha  deixam o herói mais orgânico e próximo da fase em que era desenhado pelo quadrinista Todd McFarlane. As cenas de ação são empolgantes e em uma delas temos a engraçada participação do criador do Homem-Aranha Stan Lee em uma  biblioteca.  
        Infelizmente os erros suplantam os acertos e o que poderia ser um dos melhores filmes do ano não passa de um filme mediano mas que abre as portas para uma nova trilogia. Tenho esperança que os produtores e roteiristas aprendam com seus "pecados" e nas continuações honrem esse personagem tão querido do público pois  o que torna o Aranha tão especial é a empatia gerada por um herói que,  mesmo com superpoderes, precisa enfrentar seus problemas pessoais como qualquer outra pessoa e neste filme esse conceito é quase inexistente.