No cinema
contemporâneo poucos diretores são capazes de criar filmes tão impactantes como
Quentin Tarantino. O texano de 49 anos passou boa parte da
vida trabalhando em um vídeo locadora até que teve uma chance em Hollywood e
soube aproveitá-la para criar filmes originais, violentos e extremamente
divertidos. Com a total confiança dos produtores e executivos dos estúdios,
Tarantino conta com uma grandiosa liberdade artística e criativa que lhe permite
dar vida aos mais peculiares e cativantes personagens resultantes de uma
miscelânea dos gêneros cinematográficos que mais aprecia ( do faroestes ao exploitation, passando por animações japonesas e filmes de kung-fu somente para citar alguns exemplos) e inseridos em histórias que diferem do convencional . Mesmo que em Kill Bill
Volume 2 (2004) e Bastardos Inglórios (2009) o diretor utilize elementos de
faroeste, somente com o recém lançado Django Livre (Django Unchained, 2012) é que ele consegue
homenagear plenamente este tipo de produção.
Ambientada no estado do Texas no ano de 1858, a
trama de Django Livre se inicia mostrando o protagonista interpretado por Jamie Foxx sendo liberto de mercadores de escravos pelo caçador de recompensas alemão Dr. Schultz
( Christoph Waltz). Depois de libertar Django, Schultz lhe propõe um acordo que
consiste em benefícios mútuos: se Django ajudá-lo a pegar os três irmãos
Brittle ganha 25 dólares por cabeça e é um homem livre. A empreitada é tão bem
sucedida que o Schultz resolve estender a parceria e ajudar seu novo
colaborador a encontrar a esposa Brunhilda (Kerry Washington), uma vez que o antigo proprietário do casal os separou como forma de vingança contra Django.
Adiante na história os dois descobrem que Brunhilda agora pertence ao excêntrico Calvin Candie (Leonardo Di
Caprio) um fazendeiro que se diverte apostando em lutas de mandingo
que consistem em dois escravos se degladiando até a morte. Depois de planejar a
compra de Brunhilda sem levantar suspeitas de Calvin o plano de Django e
Schultz fracassa devido à intromissão do escravo Stephen (Samuel L. Jackson) e
cabe a dupla lutar pela sobrevivência nos domínios do antagonista.
Assim como
ocorreu em Bastardos Inglórios, em Django Livre Tarantino também utiliza um tema
histórico para proporcionar ao público uma espécie de “vingança”, tema recorrente em sua filmografia. Se no filme de 2009 Donny Donowitz (Eli Roth)
utilizava um bastão de beisebol para destroçar nazistas e metralhava Adolf
Hitler, aqui a catarse ocorre quando Django chicoteia impiedosamente um homem
que outrora açoitara sua amada. Contando com belas metáforas o roteiro de Tarantino
brinda o público com diálogos divertidos (especialidade do diretor) e
personagens carismáticos interpretados por um primoroso elenco onde Christoph
Waltz se destaca com um personagem ,que assim como Hans Landa de Bastardos
Inglórios, tem na linguística um de seus maiores trunfos.
Django Livre é
acima de tudo um exercício de cinema concebido por um de seus maiores
estudiosos, um diretor que sabe entregar ao seu público um amálgama
cinematográfico dotado de personalidade e que não soa datado ou plagiado. Além
disso Quentin Tarantino tem o poder de levar o
espectador a uma profunda reflexão sobre o poder do próprio cinema
enquanto Arte, pois até já reinventou a História, e isso o torna único.
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