Em 1968, o cineasta George Romero revolucionou drasticamante as histórias de zumbis ao conceber o filme "A Noite dos Mortos-Vivos". Por conter elementos que na época eram inovadores às histórias dos mortos-vivos e inserir ao longo de sua narrativa uma forte crítica social o filme se tornou uma influência básica para as histórias de zumbis com o passar dos anos. Um dos muitos influenciados pela obra de Romero foi Robert Kirkman que no ano de 2003 lançou a revista em quadrinhos entitulada The Walking Dead. Sem muito sucesso nos seus anos iniciais foi somente em 2006 que a criação de Kirkman se consolidou no mercado quando a edição 33 se esgotou em apenas 24 horas. O sucesso das hq's gerou interesse do canal AMC que ( juntamente com Frank Darabont exímio roteirista e diretor) desenvolveu o projeto televisivo de The Walking Dead.
No ar desde 2010 e atualmente em sua terceira temporada a série acompanha a história de Rick Grimes (Andrew Lincoln), um policial que entra em coma depois de ser baleado e ao retomar a consciência meses depois encontra um mundo devastado e povoado por zumbis. Depois de reencontrar a família, o protagonista passa a integrar um grupo de sobreviventes do qual se torna parte essencial ao assumir uma função de liderança. Com o intuito de garantir subsistência e segurança o grupo de Rick se desloca, adiciona novos membros à sua composição mas também sofre baixas em decorrência dos diversos confrontos com mortos-vivos.
A pluralidade de personagens da série é representada por um eficiente elenco, composto em sua maioria de atores pouco conhecidos em que se destacam Norman Reedus como Daryl, braço direito de Rick; Jon Bernthal como Shane, cuja rivalidade com o protagonista tem um fim trágico; Sarah Wayne Callies e Chandler Riggs, como Laurie e Carl respectivamente, personagens que compõem o núcleo familiar de Rick; Steven Yeun como Glenn, um jovem especializado em infiltrações rápidas em territórios desconhecidos e responsável pela aquisição de vários recursos para o grupo; Jeffrey DeMunn como Dale o mais velho do grupo e que muitas vezes faz o papel de pai e conselheiro e Scott Wilson como Hershel um fazendeiro que acredita que o mal que assola os infectados é uma doença passível de cura. Mas é Andrew Lincoln que se saí melhor dando vida a um personagem que sente o peso da liderança e das escolhas difíceis que deve fazer para manter todos seguros.
Com uma ótima produção técnica o programa consegue transmitir todo o caos do "novo mundo" e isso fica perceptível nos cenários e na maquiagem dos atores. O único ponto fraco da série em quesitos técnicos é a computação gráfica utilizada para mostrar alguns zumbis e jatos de sangue que por vezes soam deveras falsos mas isso é justificável pelo orçamento menor que as produções televisivas recebem. As cenas de ação além de fluentes com a história mostram as mais inusitadas maneiras de se destruir zumbis. Seja em espaços abertos ou corredores estreitos os personagens mostram que vale tudo pela sobrevivência e utilizam as mais inusitadas e surpreendentes armas em nome da autopreservação.
Os roteiros da série são primorosos pois a equipe de escritores consegue dar o tom dramático necessário para que os personagens sintam, cada um a seu modo, a sua desolação diante de um mundo arruinado. As histórias também criam muita tensão pois cada novo lugar pode esconder uma surpresa, o que muitas vezes culmina em sustos ao espectador.
A série utiliza de maneira inteligente seu subtexto para dar ao espectador um vasto material de reflexão política e social. Isso pode ser exemplificado em dois momentos: quando Rick não aceita as críticas e questionamentos de seus colegas e toma para si responsabilidade pelo grupo e brada a frase: "Isso não é mais uma democracia." e quando somos apresentados a um simpático e carismático líder de uma comunidade livre de zumbis, que revela-se um homem com atitudes e intenções nefastas que é chamado de Governador.
The Walking Dead entretém o público com drama, ação e suspense e mostra um mundo cruel em que os mortos voltam a vida e representam um grande perigo mas, em muitas ocasiões, os vivos é que devem ser temidos.