segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Piadas de Escritório


     Pluralidade, acredito que essa seja a melhor maneira de definir um ambiente de trabalho seja tal ambiente da iniciativa privada ou uma repartição pública. Reunir diversas pessoas, cada uma com sua idiossincrasia, e transformá-las em uma equipe é um grande desafio pois é comum que ocorram divergências no dia-a-dia. Cabe ao chefe, em teoria alguém mais experiente e mais sensato, coordenar cada setor para que a execução do trabalho de cada um  dos funcionários,que devem ser constantemente motivados, seja cada vez mais eficiente gerando assim o almejado crescimento da produtividade no caso das empresas particulares e da eficiência no caso do setor público. 
     Conscientes do potencial humorístico de relatar o cotidiano de um ambiente de trabalho, neste caso o escritório de uma distribuidora de papel, Rick Gervais e Stephen Merchant desenvolveram no ano de 2001 a excelente série "THE OFFICE" para a BBC de Londres.No escritório da Wherham Hogg chefiado por David Brent ( interpretado pelo próprio Gervais) as relações entre os funcionários-com destaque para Tim Caterburry (Martin Freeman), Dawn Tinsley (Lucy Davis) e Gareth Keenan (Mackenzie Crook)- geram situações extremamente divertidas por serem corriqueiras, como por exemplo, piadas sem graça sendo contadas, pegadinhas,discussões e por aí vai. 
    David Brent é um chefe que se acha engraçado, se diz amigo de todos, faz de tudo pra aparecer,seja contando piadas ridículas ou dançando, mas na verdade é um cretino ( eu já tive um chefe assim) e a expressão corporal de Gervais deixa o personagem mais engraçado em uma interpretação genial.

    O amor platônico de Tim (meu personagem favorito pois me identifico com ele em vários aspectos) e Dawn é outro ponto forte da série, com uma bela e engraçada amizade muitos são os percalços para que eles possam ficar juntos.
     Os personagens de apoio também são excelentes e garantem ótimos momentos. Com muita criatividade ao abordar um tema tão comum a todos "The Office" possuí um elenco que dá um excelente estofo burlesco e em alguns momentos até dramáticos aos personagens.
    Com roteiros inteligentes, dotados de sutileza, humor negro e momentos constrangedores ( sobretudo quando se trata de David Brent) "The Office" sai da mesmice e outro fator de qualidade da série é seu interessante aspecto de documentário/ reality show que faz com que os personagens interajam com a câmera através de depoimentos ou hilários momentos de vergonha e isso aumenta a empatia com o público. "The Office" teve apenas 12 episódios divididos em duas temporadas entre os anos de 2001 e 2002 e 2 episódios especiais exibidos em 2003 (onde o propósito da BBC era voltar depois de um intervalo de tempo e saber como estava a vida daquelas pessoas, além de amarrar as pontas soltas do episódio final) que foram suficientes para criar uma legião de fãs por todo o mundo e gerar uma versão americana protagonizada pelo comediante Steve Carrel. 
    Cativante em sua simplicidade e astuta em sua execução a série é sem dúvida uma das melhores que já tive o prazer de assistir por fazer piada com o chato, mas essencial em nossas vidas, ambiente de trabalho.


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"Oh boy is well to say: good morning U.S.A."


     Depois dos ataques terroristas cometidos pela Al-Qaeda no dia 11 de setembro de 2001, o orgulho dos norte-americanos ficou ferido e isso se refletiu  na cultura pop, por exemplo, filmes como "Homem-Aranha" (Spiderman, 2002) e "Homens de Preto II" (MIB II, 2002) tiveram que deletar cenas passadas nas torres gêmeas do World Trade Center e vilões de origem árabe se tornaram mais caricatos. Somando esse fator à política externa de George W. Bush caracterizada pelo belicismo e pela ausência de diplomacia era de se esperar que a xenofobia tomasse conta dos E.U.A.  
     Satirizando todo esse contexto surgiu em 2005 a série animada "American Dad", criação de Seth MacFarlane ( também criador de "Family Guy"). O protagonista, que desde a canção de abertura mostra seu patrotismo exacerbado e o amor pela família é  Stan Smith  um idiota, severo e conservador agente da CIA que diariamente luta contra ameaças terroristas e tem que lidar com sua complicada família: sua esposa Francine é frustrada; sua filha de 18 anos Hayley é liberal e suas ideologias vão contra tudo o que Stan acredita; seu filho Steve é um nerd sempre preocupado em conquistar garotas e não demonstra os mesmos interesses que o pai. Um dos fatores mais interessante da série é que ao invés de um cão de estimação a família Smith convive com um alienígena foragido chamado Roger e um peixe dourado que possuí o cérebro de um esquiador alemão chamado Klaus, afinal durante a Guerra Fria os americanos não poderiam permitir que um atleta oriundo de um país comunista vencesse as Olímpiadas.
    "American Dad" utiliza o humor para sintetizar a sociedade americana depois dos supracitados ataques terroristas, ou seja, paranóica e assustada (além de uma inesgotável fonte de piadas mesmo com o país enfrentando duas guerras intermináveis) e Stan representa isso de maneira fantástica pois está sempre de arma em punho, é extremamente preconceituoso com seus vizinhos de ascendência árabe e com seu discurso moralista e ufanista é responsável por excelentes piadas. O choque entre a vida pessoal e a vida profissional de Smith   também é um diferencial pois é comum que o agente vá até o  laboratório da CIA em busca de algo que possa lhe auxiliar na "resolução" dos problemas de sua família e acaba sempre criando diversas confusões.
     Com roteiros bem escritos, permeados de piadas inteligentes e personagens cativantes e carismáticos, "American Dad" também tem uma produção caprichada pois sua animação é de alta qualidade e a dublagem muito bem executada. Seth MacFarlane mais uma vez acumula funções-criador, produtor, roteirista, dublador- e junto de sua equipe entrega ao público entretenimento de alto nível que nos diverte mas também nos faz pensar sobre o contexto político contemporâneo.


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Linear Notes-Mad Men Temp.1, Ep.01


     Não se pode negar que inteligência e criatividade são indispensáveis para os profissionais da publicidade. A série "Mad Men", ambientada nos anos 60, explora esse universo sob a ótica de Don Draper (John Hamm) o principal publicitário da companhia Sterling Cooper. Logo no primeiro episódio, "Smoke Gets in your Eyes", já podemos vislumbar o que acredito serem as principais características da série: inteligência no roteiro, diálogos bem escritos, boas atuações e uma excelente reconstituição de época.
     O mote do episódio piloto mostra Draper sem inspiração para criar uma nova campanha para a empresa de tabaco "Lucky Strike". Acossado por alarmantes dados sobre os danos causados pelos produtos fumígenos, cabe ao personagem criar um slogan mais poderoso que os temores alastrados pelo governo norte-americano e pela revista "Seleções do Reader's Digest". Outro destaque é a personagem Peggy Olson (Elisabeth Moss), nova secretária de Draper, em seu primeiro dia ela conduz o espectador pois descobre muito sobre o comportamento dos personagens e o funcionamento da empresa de propaganda.
     "Mad Men" acerta em cheio na sua recriação de época, pois na Guerra Fria vender o "sonho americano" era essencial para o sistema capitalista e Draper sintetiza esse conceito pois mesmo sem acreditar em convenções sociais- "Amor é algo criado por caras como eu para vender meia-calça" diz a certa altura do episódio- ele é casado, tem dois filhos e uma casa no subúrbio, ou seja, é infeliz mas vive de aparências o que é essencial na sociedade conservadora na qual está inserido. Um ótimo começo pra uma série cheia de boas idéias e bem produzida, que prendeu minha atenção e me deixou ansioso pelos próximos episódios.

O Cheiro da Tristeza...

Angústia

O doce cheiro de uma enorme angústia paira no ar
Penas de fumaça ascendem e fundem-se no céu plúmbeo
Um homem encontra-se em sonhos de campos verdes e rios
Mas acorda em uma manhã sem razão para despertar

Ele é assombrado pela memória de um paraíso perdido
Em sua juventude ou um sonho, ele não pode ser preciso
Ele está acorrentado eternamente a um mundo que parte
Não é o bastante, não é o bastante

Seu sangue se congelou e coalhou com o medo
Seus joelhos tremem e deram caminho na noite
Suas mãos enfraqueceram-se na hora da verdade
Seus passos vacilaram

Um mundo, uma alma
Tempo passa, os rios correm

E ele fala ao rio de amores e dedicações perdidas
E o silêncio responde a estes convites rodopiantes.
Obscuro e perturbado fluxo a um mar oleoso
Severa intimação de o que é ser.

Há um incessável vento que sopra esta noite
E há poeira em meus olhos, que cega minha vista
E o silêncio que fala mais alto que palavras,
de promessas quebradas...

Tradução da canção "Sorrow" do Pink Floyd,presente no álbum "A Momentary Lapse of Reason" de 1987.




segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Tá Tudo Errado


Comunidade que vive a vontade
Com mais liberdade tem mais pra colher
Pois alguns caminhos pra felicidade
São paz, cultura e lazer
Comunidade que vive acuada
Tomando porrada de todos os lados
Fica mais longe da tal esperança
Os menor vão crescendo tudo revoltado
Não se combate crime organizado
Mandando blindado pra beco e viela
Pois só vai gerar mais ira
Naqueles que moram dentro da favela
Sou favelado e exijo respeito
São só meus direitos que eu peço aqui
Pé na porta sem mandado
Tem que ser condenado
Não pode existir
Está tudo errado
É até difícil explicar
Mas do jeito que a coisa está indo
Já passou da hora do bicho pegar
Está tudo errado
Difícil entender também
Tem gente plantando o mal
Querendo colher o bem
Mãe sem emprego
Filho sem escola
É o ciclo que rola naquele lugar
São milhares de história
Que no fim são as mesmas
Podem reparar
Sinceramente não tenho a saída
De como devia tal ciclo parar
Mas do jeito que estão nos tratando
Só estão ajudando esse mal se alastrar
Morre polícia, morre vagabundo
E no mesmo segundo
Outro vem ocupar
O lugar daquele que um dia se foi
Pior que depois geral deixa pra lá
Agora amigo, o papo é contigo
Só um aviso pra finalizar
O futuro da favela depende do fruto que tu for
plantar
Está tudo errado
É até difícil explicar
Mas do jeito que a coisa está indo
Já passou da hora do bicho pegar
Está tudo errado
Difícil entender também
Tem gente plantando o mal
Querendo colher o bem

Música de Mc Júnior e Leonardo presente na trilha sonora do filme "Tropa de Elite 2".

"Eu sou o lutador.Não é você, não é você, não é você."

  
     Quão tortuoso pode ser o caminho de um homem até seu momento máximo de glória? Quais os maiores desafios que devem ser enfrentados e vencidos? Filmes sobre boxe possuem em sua essência essa discussão, pois o boxe é o esporte que dá a chance de um desconhecido ser aclamado. No filme "O Vencedor" (The Fighter, 2011) a história, baseada em fatos reais,  mostra que o caminho até o campeonato mundial percorrido pelo pugilista Micky Ward (Mark Wahlberg) torna sua conquista ainda mais brilhante pois, como vemos durante o filme, as dificuldades estavam onde Micky deveria encontrar o seu maior apoio: a sua complicada família.
      Micky é empresariado pela mãe Alice (Melissa Leo) e treinado pelo irmão ex-boxeador e viciado em crack Dicky Eklund ( Christian Bale, muitos kilos mais magro e em excelente atuação). A carreira de Ward é mal administrada e por isso Micky parece estar fadado à mediocridade e a viver à sombra do irmão conhecido como o "Orgulho de Lowell" porque em 1978 aplicou um knockdown no campeão Sugar Ray Leonard. Somente quando conhece Charlene (Amy Adams) e é massacrado em uma luta contra um rival 10 kilos mais pesado Micky passa a perceber os malefícios da interferência de seus familiares em sua carreira, junto da nova namorada ele toma uma decisão crucial e passa a ter um novo empresário e um novo treinador fato este que o afasta da mãe e do irmão cuja vida de crimes conduz a situação para um estado cada vez mais crítico.
     O filme dirigido por David O. Russel tem uma bela história de superação tanto de Micky quanto de Dick mas também possuí toques de comédia como a discussão se Eklund derrubou mesmo Sugar Ray ou se este  último apenas escorregou. Quando passa a se impor e tomar as decisões sobre sua vida - a cena em que brada a frase que dá título a este post é fundamental nesse aspecto-  aliar os conhecimentos de seu irmão com a nova equipe, Micky  batalha pelo título mundial em uma luta emocionante em Londres. Micky é o lutador mas também sabe que um verdadeiro campeão antes de enfrentar seu adversário deve enfrentar a si mesmo, superando seus medos e frustrações, e fazer o que for preciso para alcançar seu ápice até mesmo perdoar as pessoas que o magoaram, por saber que eles são essenciais não somente em sua carreira mas também em sua vida pessoal.

8 Dias Terríveis

    
      Para fazer um relato mais abrangente de "24 Horas" irei abordar os aspectos mais importantes da série.

O Conceito

     Histórias passadas em tempo real não são uma inovação de "24 Horas", o melhor exemplo deste modelo é o filme "Matar ou Morrer" (High Noon, 1952), entretanto o modo como os criadores da série utilizaram o recurso tornou-se um diferencial. Com os relógios aparecendo a todo momento e a tela dividida entre vários acontecimentos simultâneos o suspense propiciado pelo roteiro se torna mais intenso pois o espectador fica pensando de que modo acontecerá o desfecho de situações cruciais da trama. Com a série passada em tempo real os intervalos comerciais representam apenas acontecimentos sem relevância como o deslocamento de personagens ou análises de dados técnicos. 
     "24 Horas" acompanha o cotidiano da  CTU (Counter Terrorism Unit), na traduçãoUCT( Unidade Contra Terrorismo). Desde as ameaças terroristas, as análises de dados feitas com alta tecnologia e o trabalho das equipes de campo todo o trabalho da "Unidade" é apresentado ao público. Outro ponto forte da série são as histórias mostrando os bastidores das ações presidenciais: seus interesses, suas omissões, seu comprometimento com o povo, com a democracia e suas motivações pessoais.

Jack Bauer

     Kiefer Sutherland costumava dizer que se Jack Bauer morresse a série poderia continuar com o mesmo sucesso pois era seu formato o responsável pela boa aceitação junto ao público, bullshit, como costumam dizer os americanos. Ao interessante mote da série somam-se o carisma e a obstinação de Jack Bauer um homem de princípios e métodos radicais . 
     Disposto a tudo para defender seu país de ataques terroristas e também proteger sua família Bauer não segue as regras por isso mata, tortura etc, fazendo o que for necessário para conseguir respostas e pistas. Bem treinado e sem limites ele é responsável por chefiar missões de alto risco e sempre é requisitado mesmo quando não está a serviço do governo federal. Durante as 8 temporadas da série Bauer viu sua vida pessoal entrar em colapso devido ao seu trabalho e muitas vezes suas missões também se transformavam em vingança pessoal, um componente que enriquecia o personagem e dava mais emoção aos episódios. 

Continua... 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Linear Notes-Jack Bauer At All


     Hoje dia 02 de fevereiro de 2011, chega ao fim pela Rede Globo uma das melhores séries lançadas na década passada, "24 Horas". Ao longo de suas 8 temporadas a série, passada em tempo real, mostrou as batalhas do ora agente federal, ora renegado Jack Bauer que em detrimento de sua vida pessoal lutou contra ameaças terroristas e também enfrentou inimigos dentro de seu próprio país.
     Além do formato inovador em tempo real a série também ficou marcada pelos enredos envolventes e cheios de reviravoltas a cada episódio. As excelentes cenas de ação e o carisma de Kiefer Sutherland protagonizando a série também contribuíram para a qualidade do programa. Mesmo tendo "derrapado" nas últimas temporadas e ficando um pouco repetitiva "24 Horas" mostrou na segunda metade dessa última temporada razões para justificar o fato de ficarmos acordados até tarde a espera dos novos episódios.
     No episódio duplo que será exibido esta noite, Jack irá enfrentar o governo russo,  seu inimigo Charles Logan e o governo dos EUA. Podemos esperar para esse "series finale" os elementos que consagraram "24 Horas" e muita emoção. Um relato mais detalhado sobre  série e seu desfecho será feito amanhã no artigo "8 Dias Terríveis", até lá aguardo ansiosamente para acompanhar os rumos da complicada vida de Bauer.