terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Linear Notes-Semana Cheia...

     Bom dia caros leitores, a semana passada foi cheia e cansativa mas rendeu bons assuntos pro blog. O fato mais inusitado foi um suicida que tive que ajudar convencendo-o a não pular de uma ponte perto de minha casa, o mais engraçado era que eu estava a caminho de uma festa, festa essa que estava relutando em não comparecer, por estar muito cansado. Vi muita tristeza nos olhos daquele homem mas o convenci que suicídio não era solução pra nada e recebi ajuda do proprietário de um bar e de um policial, os quais agradeço muito e torço para que aquele homem (que pelo que eu soube está internado desde aquele dia) se recupere e viva bem daqui pra frente.
     Também na semana passada consegui uma vitória junto ao prefeito e esta vitória irá beneficiar não só a mim mas vários funcionários do setor de educação de minha cidade. Fui escolhido o representante de meus colegas e agradeço a todos pela confiança em mim depositada. Devemos comemorar nossa vitória ( trabalhar 6 horas ao invés de 8) e cumprir nosso dever junto à população de São José do Rio Pardo, prestando um serviço de qualidade aos alunos do nosso sistema educacional.  
     Para fechar a semana tive minha última consulta do ano com o melhor médico de S. J. do Rio Pardo, o Dr. Teixeira,  e além de me ajudar muito nos últimos meses minha consultas se transformavam em bates papos inteligentes que me fizeram lutar para  alcançar o máximo de meu potencial . Agradeço por todas as orientações e aproveito uma sugestão de tão brilhante médico para fazer um questionamento levantado por ele: "Qual a diferença entre remédio e veneno?" A quantidade.
     Desde o princípio dos tempos o homem se utiliza de substâncias que alteram sua percepção, muitos se aproveitam do efeito de tais substâncias e criam coisas benéficas como, por exemplo, obras artísticas mas devemos saber nos controlar pois o excesso nos leva a situações extremas que podem ter graves conseqüências.
     Enfim 2010, foi um ano de altos e baixos, mas foi um ano em que pude dar passos além e vislumbrar como a vida pode ser boa, agradeço minha família, minha namorada, meus amigos/colaboradores e a meus poucos mas fiéis leitores que opinaram sobre minhas idéias e debateram comigo neste blog modesto mas feito  com muito cuidado e carinho somente para expressar idéias.Obrigado a todos e boas férias.        

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Andy Kaufman


     O que motiva um(a) humorista? disposto a levar alegria ao seu público,quem pratica o humor se veste de mulher (quando já não é uma, afinal existem muitas mulheres engraçadas), recebe volumosas tortadas na cara, leva chutes na bunda, por vezes se deprecia abdicando de sua "honra" e de sua "dignidade", somente para citar alguns exemplos, e tudo isso para proporcionar o riso à sua platéia. Como todo artista que se preze o papel de um humorista é despertar emoções no público, fazendo com que durante aquele breve momento de sua apresentação o único foco do espectador sejam as peripécias burlescas desenvolvidas pelo humorista. Muitos apenas fazem o básico, e até que são divertidos, mas outros vão além e com o passar do tempo ganham notoriedade a ponto de serem reconhecidos como gênios. O americano Andy Kaufman era um desses gênios mas...quem era esse cara?

     Mesmo hoje, 26 anos após sua morte, é extremamente difícil responder a essa pergunta. Kaufman era um vanguardista naquilo que fazia e na época em que ele estava vivo poucos perceberam isso. Parte relevante de sua inusitada e brilhante história está retratada no filme " O Mundo de Andy" ( Man on the Moon,1999), dirigido por Milos Forman e protagonizado por Jim Carrey nesta obra conhecemos a trajetória que levou o nome de Kaufman ao estrelato. Desde criança as tendências artísticas de Kaufman eram evidentes pois ele fazia pequenos shows para os membros de sua família. Já adulto e fazendo stan-up Andy foi descoberto pelo empresário George Shapiro (Danny de Vitto) e  ficou famoso ao interpretar o mecânico Latka na série "Taxi" transmitida pela ABC. Kaufman, dono de um visual peculiar marcado pelo cabelo e os olhos de um lunático, surpreendia a todos com suas performances que, descobria-se depois, não passavam de encenação. Brigas em programas ao vivo, personagens bizarros ( o melhor deles o cantor grosseiro Tony Clifton), lutas com mulheres e pegadinhas históricas faziam parte do repertório do artista, que passou a ser odiado por muitas pessoas que não sabiam distinguir suas farsas da realidade.
     Um dos momentos mais brilhantes do filme retrata o combate de luta-livre em que Andy Kaufman enfrentou o campeão Jerry Lawler. Kaufman insulta Lawler e seus conterrâneos da cidade de Memphis chamando-os de imundos e "apresentando" a todos artigos como sabonete e papel higiênico. O irado Lawler aplica golpes que lesionam o pescoço de Kaufman, prosseguindo o filme vemos que se tratava de mais uma armação e que Lawler era mais um dos comparsas de Kaufman, mas a catarse que o público ofendido obteve acreditando na lesão de Andy evidencia o conceito sobre o qual discorri no primeiro parágrafo deste post e mostra que as intenções do humorista eram mais amplas que o simples riso.
     O próprio Kaufman não se dizia um humorista (mas suas performances nos mostram o contrário) e sua conturbada e enigmática personalidade está bem retratada no filme de 1999. A relação com a família, os amigos, a namorada e seus cúmplices mostra que Andy era um homem diferente, que nunca expôs suas reais motivações mas  tencionava se tornar um grande artista. Com uma ótima interpretação de Jim Carrey conhecemos um pouco mais esse controverso personagem, rimos, nos emocionamos com sua prematura morte conseqüência de um câncer no pulmão ( os amigos e a família chegaram a pensar que a doença era mais uma de suas armações)  e chegamos a conclusão que o humorista é uma pessoa com um diferencial que no fim das contas não precisamos compreender, apenas apreciar.
     

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Linear Notes- A marca histórica de Tropa De Elite 2


     Após 9 semanas de exibição, o filme "Tropa De Elite 2- O Inimigo Agora é Outro" atingiu a impressionante marca de 10.736.995 ingressos vendidos e se tornou o filme mais visto da história do cinema nacional. O recorde anterior era de  10.735.524 e pertencia ao filme "Dona Flor e seus Dois Maridos lançado no ano de 1976. Entretanto vale lembrar que não existem dados confiáveis referentes ao público dos filmes nacionais lançados antes de 1970 ( alguns acreditam que os filmes de Mazzaropi tenham alcançado um público maior) mas isso não tira os méritos do filme que dá continuidade a saga do policial Roberto Nascimento em sua luta contra a corrupção.
     A marca histórica de "Tropa De Elite 2..." foi alcançada ontem, 07 de dezembro de 2010, e o mais impressionante desse fenômeno cultural é que a obra possuí diversas similaridades com os acontecimentos recentes ocorridos na cidade do Rio de Janeiro. Chefe de ONG negociando a rendição de traficantes e ações do BOPE para expulsar bandidos das favelas são as principais semelhanças do filme com a operação que tinha por objetivo destituir os comandos criminosos da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão e que, depois de vários dias de combate, obteve êxito.
     Muitas pessoas se manifestaram em redes sociais dizendo que os fatos ocorridos  no Rio de Janeiro foram um reflexo dos acontecimentos relatados no filme. Discordo desse pensamento por acreditar que uma operação de tão ampla magnitude demande muito tempo e planejamento pra ser executada e o fato dela acontecer quase que simultaneamente à chegada do filme aos cinemas seja apenas uma coincidência.
     O tom realista com que o filme de José Padilha trata de um tema tão relevante para a sociedade contemporânea, o fato de ter como protagonista um homem de princípios que luta pela verdade e pela justiça são os aspectos responsáveis pelo sucesso do filme e transformaram Nascimento ( interpretação impecável de Wagner Moura) em um herói nacional, o que é muito importante pra inspirar as pessoas em um país sempre assolado por escândalos de corrupção. 
     Gostaria de dar os parabéns a todos os envolvidos no projeto pela façanha e ao governo do estado do Rio de Janeiro que resolveu tomar decisões coerentes e eficientes contra  as ações criminosas dos traficantes.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dizem Que Nenhum Homem é Uma Ilha

Perdidos, Afinal...
  
     Como definir "Lost"? No ano de 2004 era muito difícil responder a essa pergunta se pensarmos em toda sua complexidade e a força de suas histórias (que misturavam ficção-científica, ação, terror, comédia, filosofia, religião e drama) além de serem cercadas por muitos mistérios, mistérios estes que só cresceram no decorrer de suas 6 temporadas. Na verdade "Lost" revelou-se bem simples e agora, depois de seu final, é possível constatar que  tratou-se de  uma série inovadora que nos mostrou a jornada de pessoas diferentes, que se uniram e estavam destinadas a trilhar o mesmo caminho. 
     A jornada dessas pessoas começa quando o voô 815 da empresa Oceanic, que partiu de Sydney e tinha Los Angeles como destino, é abruptamente interrompido pela queda do avião. Os sobreviventes se organizam na ilha em que a aeronave caiu enquanto aguardam o resgate, mas aos poucos começam a se dar conta de que o socorro talvez nunca chegue e que a ilha, que agora são forçados a habitar, esconde nativos hostis e muitos segredos. A cada episódio era contada parte da história de um dos personagens fora da ilha: seu passado, seu futuro, como chegaram até aquele ponto, o que aconteceria se saíssem de lá e como seriam suas vidas se o avião nunca tivesse caído.
     Com um elenco talentoso e multi-racial (brancos, negros, coreanos, ingleses, etc), histórias inteligentes e bem escritas "Lost" desenvolvia seus personagens, ao mesmo tempo em que revelava alguns mistérios de sua mitologia e lançava muitos outros no ar. A série foi revolucionária não apenas pelos enredos interessantes, que prendiam a atenção dos fãs, mas também pela mobilização dos mesmos utilizando a grande ferramenta de  comunicação da década, a Internet. Diversas eram as teorias sobre os mistérios da ilha, a interação e troca de idéias, as equipes que passavam a madrugada toda fazendo legendas e disponibilizando os episódios para download. O poder dessa ferramenta era tão grande que os produtores criaram  conteúdos exclusivos para a Internet e esse material estava interligado aos episódios.
"...see you in another life, brother."
  
     O final de "Lost" até hoje divide opiniões, existem os que amam e os que odeiam. Os detratores de "The End", partes 1 e 2, alegam que foram enganados pelos produtores, que por 6 temporadas permearam os episódios de dúvidas e no fim pouco se explicou. Em parte estão certos pois muitas questões não foram elucidadas. Entretanto tudo depende do modo que se acompanha a série.
     Ursos polares em ilhas tropicais, monstro de fumaça preta, números misteriosos, estátuas com 4 dedos e inúmeras outras questões foram apresentadas no decorrer das temporadas e somente algumas foram esclarecidas. Acredito que os produtores deixaram os mistérios para que cada um resolva a sua maneira, ou seja, utilizando o próprio raciocínio e não absorvendo as informações de maneira "mastigada" e isso irritou muitas pessoas.
      Mas analisando todo o desenvolvimento de personagens pode-se concluir que os produtores levaram ao público um dos melhores finais de séries de todos os tempos. Emocionante e revelador quanto ao destino dos protagonistas, o fim do seriado realça os dramas relatados desde o princípio e redime cada um dos personagens, propiciando a eles a oportunidade de evoluir, resolvendo as pendências que lhes trouxeram sofrimento durante a vida. 
     Por muitos anos o legado de "Lost" irá perdurar, pois todas as emoções sentidas por seus fãs foram intensas e esse tipo de sentimento só é proporcionado por histórias humanas que geram empatia junto ao público e são bem contadas. A mensagem de esperança e redenção encerrou de maneira linda uma história memorável, seja por seus mistérios, o carisma de seus personagens e o amor que os unia ou suas frases icônicas "Lost" fez história na TV e definiu novas maneiras de entrar em contato com o público, algo primordial em uma era em que a informação é tão rápida e abundante. 

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Linear Notes- A Volta de Californication

     No post sobre a série "Californication" escrito no mês de agosto noticiei que a 4ª temporada da série será exibida no próximo ano. Para começar a campanha de divulgação o canal SHOWTIME passou a exibir  comerciais que revelam os rumos que a história de Hanky Moody vai tomar na nova temporada.
     É possível perceber que o protagonista irá passar por maus bocados diante da acusação de pedofilia que o colocou na cadeia no fim da temporada 3. Além disso Hanky terá que reconquistar a ex-namorada Karen (que ao que parece tem um novo interesse romântico) e a filha Becca após o supracitado escândalo e pelo fato delas não o aceitarem de volta ao apartamento onde moram Hanky irá morar com o amigo Charlie. Outra novidade interessante é o filme que começa a ser produzido baseado nos acontecimentos da vida de Moody e não podemos esquecer das belas mulheres vistas nas prévias e que com certeza irão partilhar a cama com o escritor hedonista.
     Artigos mais completos sobre a série serão escritos conforme a temporada for avançando mas desde já posso garantir que Hanky Moody ainda vai proporcionar histórias muito boas para seus fãs. A expectativa é grande e acredito que a pausa de 1 ano da série serviu para que seus autores levassem o personagem a níveis  mais intensos, complexos, engraçados e interessantes do universo masculino através da ótica de um homem que, na ensolarada Califórnia, vive a vida que muitos gostariam de viver. 

Abaixo os comerciais do Ano 4 de Californication:
Comercial 1:

Comercial 2:
Comercial 3:

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ficção-Científica e Destino

     A ficção-científica é um gênero por vezes marginalizado por suas histórias futuristas e também sobre alienígenas, viagens no tempo, máquinas dotadas de consciência, etc. Entretanto seus admiradores não se encantam apenas com os aspectos técnicos desse tipo de produção e conseguem ir além, se apegando aos conceitos de tais obras com destaque para os filmes inspirados nos  trabalhos de Isaac Asimov, George Orwell e Philip K. Dick . Um bom exemplo da ficção-científica com conceitos filosóficos são os 2 primeiros filmes da saga "Planeta dos Macacos", inspirados no livro de Pierre Boulle, onde o astronauta Taylor (Charlton Heston) discursa sobre a degradação da raça humana em um planeta dominado por símios dotados de inteligência.
     Dois filmes em particular tratam de temáticas semelhantes são eles "Matrix" de 1999 e "Minority Report" de 2002. Em "Matrix", uma guerra é travada entre as máquinas-que dominaram  a Terra, utilizam seres humanos como fonte de energia e fornecem a eles uma "realidade"- e humanos rebeldes que estão desconectados da realidade criada pelas máquinas. Ao lado dos rebeldes está a entidade denominada "Oráculo" que prevê o futuro de Neo (Keanu Reeves), um provável "Escolhido" (aquele que com seus poderes irá por um fim a essa guerra), mas ele acredita que controla sua vida e diante dos acontecimentos que se seguem deve fazer escolhas cruciais para o futuro de toda a raça humana.

     No filme "Minority Report", passado no ano 2054, o policial John Anderton (Tom Cruise) trabalha em uma divisão da polícia que utiliza as visões de 3 videntes para prever os crimes e prender os criminosos antes que os delitos sejam cometidos. Quando Anderton é incriminado por uma previsão, foge para provar sua inocência e se depara com a situação da qual tentava escapar. A questão principal nos dois filmes diz respeito às decisões que cada um deve tomar e suas conseqüências e tal linha de raciocínio é enriquecida pelo fato dos protagonistas conhecerem seu futuro, o que leva os espectadores  a refletirem sobre a utilização do livre arbítrio ou a consumação do destino que lhes está reservado.
            
     Na vida real não existem previsões, nem chances de consertar o passado, portanto devemos pensar em nossas ações supondo quais serão suas repercussões e não apenas assistir os acontecimentos pois acredito que cada um faça seu próprio destino.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Aspectos da Violência no Cinema

     Alfred Hitchcock acreditava que a violência era algo assustador e por essa razão poupava o público de seus filmes de cenas violentas, priorizando desse modo a sugestão que causava o suspense pelo qual suas obrass se tornaram famosas. No entanto outros diretores se tornaram notórios devido ao emprego da violência fluente com a história de seus filmes, mas seus trabalhos não são apenas colagens de cenas violentas sem propósito e tencionam discutir a natureza de tal sentimento tão inerente aos seres humanos.
      Nos filmes "2001: Uma Odisséia no Espaço"(2001: A Space Odyssey, 1968) e "Laranja Mecânica" (A Clockwork Orange, 1971) o visionário Stanley Kubrick relata dois aspectos interessantes relacionados a esse tema. No filme de 1968 durante a "alvorada do homem" os primatas descobrem como matar seus adversários e o poder que isso traz na simbólica batalha por uma poça de água.

     Já no filme de 1971 através da jornada de Alexander De Large (Malcolm Macdowell), um jovem que comete delitos e pratica a ultraviolência por pura diversão, o diretor mostra que muitas vezes os sentimentos agressivos estão presentes de maneira tão marcante na mente de algumas pessoas que suprimi-los tem por conseqüência acabar com sua personalidade.

     Em "Kill Bill-Vol.1"(idem,2004) e "Kill Bill-Vol.2" (idem,2004) Quentin Tarantino conta a história de vingança de Beatrix Kiddo (Uma Thurman), uma antiga matadora de aluguel, que foi espancada por seus antigos colegas e levou um tiro na cabeça desferido por seu  ex-chefe e ex-namorado Bill (David Caradine). Ao engravidar e abdicar da violência em sua vida  o que Beatrix consegue é apenas atrair pra si mais truculência enquanto caça os que lhe fizeram mal depois de sair de um coma de 4 anos. No embate com Bill ele faz questão de deixar claro que eles são pessoas que não nasceram para viver em paz e nesse sentido a elucidativa citação ao personagem Superman é soberba.

     O britânico Christopher Nolan deu ao personagem Batman, oriundo das histórias em quadrinhos, contornos realistas no filme "Batman Begins"(Idem,2005) tanto na concepção do protagonista quanto o contexto de violência urbana e corrupção em que ele está inserido na cidade de Gotham City e aprofundou suas reflexões na continuação "Batman-O Cavaleiro das Trevas" (The Dark Knight,2008) através do personagem Coringa, interpretado de maneira fantástica por Heath Ledger. No filme o Coringa apenas existe, não tem uma identidade ou história de origem como é comum ao gênero, e sua existência é pautada pela violência. O personagem é um elemento do caos e da anarquia, não se importando nem com sua própria vida, desde que cause na mente das pessoas o medo e a sensação de insegurança, e Nolan o utiliza para tentar entender as raízes da maldade.
     A violência faz parte do cotidiano das pessoas e está presente desde os desenhos animados assistidos pelas crianças até as notícias que estão nos jornais e na TV. O que a motiva é a própria natureza humana e por razões diferentes  seus agentes a executam. Ao discorrer sobre ela em seus filmes os cineastas acima citados mostram que o público aceita a violência em suas obras pois ela faz parte de cada um de nós e externá-la é apenas uma questão do contexto de vida em que estamos inseridos.  

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Family Guy


    O pai, gordo e idiota, se chama Peter; a mãe ,dedicada e frustrada, Lois; a filha adolescente e insegura é Meg; o filho do meio é bobo e se chama Chris; o bebê ao invés de ser fofinho e gracioso é superdotado, megalomaníaco e recebeu o nome de Stewie, junto deles sempre está o cão falante, e por vezes mais racional que os seus donos, Brian. Esses são os personagens que formam a desengonçada e desajustada família Griffin que compõe o núcleo de "Family Guy", um desenho animado voltado para o público adulto que utiliza ótimas piadas para criticar e ao mesmo tempo rir da sociedade moderna.
        A família Griffin está sempre diante da TV, vive na cidade de Qhahog e seus componentes se envolvem nas mais hilariantes e bizarras situações algumas delas surreais  , destacam-se também: os vizinhos Joe, Cleveland e Quagmire responsáveis por diversas situações engraçadas, as piadas com celebridades, as paródias de filmes e desenhos consagrados e a qualidade da animação.Esses fatores garantem à série um nível de excelência quase inexistente nos desenhos animados dos dias de hoje.
     O mote de cada episódio pode até parecer convencional, a  fórmula não é original e já foi consagrada desde os final da década de 80 com o sucesso de "Os Simpsons". Entretanto Seth MacFarlane- criador, produtor, roteirista e dublador- consegue propiciar a cada um dos episódios algo diferenciado, sempre com muita inteligência e utilizando-se de um humor ácido e anárquico.
     "Family Guy" leva o público ao riso de maneira fácil devido à sua profusão de piadas  que atacam os padrões morais e conservadores (através de uma família que no mínimo pode ser chamada de desfuncional pois seus membros não tem nada de previsível ou convencional) que infelizmente permeiam o mundo em uma época em que tudo deve ser politicamente correto. 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Saga do Padrinho

     Assistindo "O Poderoso Chefão" (The Godfather, 1972) nos dias de hoje é muito difícil imaginar que um filme tão brilhante tenha passado por um processo de criação tão conturbado. Os executivos da Paramount interferiram em todos os aspectos da produção, fazendo com que o diretor e co-autor do roteiro Francis Ford Coppola tivesse que brigar para fazer prevalecer suas opções artísticas. Esses mesmos executivos queriam que o filme se passasse nos anos 70, diferente do livro de Mario Puzzo ( e também autor do roteiro ao lado de Coppola) que originou o longa e se passava durante as décadas de 40 e 50, não aprovaram a contratação do novato Al Pacino e restringiram o orçamento somente para citar alguns exemplos.
     "O Padrinho", como eu prefiro chamar o filme, conta a história de Don Vito Corleone (Marlon Brando, perfeito) chefe de uma "família" mafiosa que possuí negócios ilícitos ligados à exploração do jogo e que presta favores a seus "afilhados" em troca de amizade e da retribuição dos favores se necessário. Quando Don Corleone se nega a financiar um traficante de drogas sofre um atentado contra sua vida e cabe a seus filhos Sonny (James Caan), Fredo (John Cazale), Michael ( Al Pacino) e adotivo Tom Hagen (Robert Duvall)  cuidar dos negócios.
      O roteiro escrito por Puzzo e Coppola compara as organizações mafiosas com grandes empresas e tece dessa maneira uma crítica ao capitalismo selvagem, sendo nesse aspecto extremamente significativa a cena em que os chefes das "famílias" se reúnem para discutir uma trégua e selar novos acordos. A vida pessoal dos Corleone também é enfatizada mostrando suas celebrações e suas perdas. O melhor do filme está na transformação pela qual o personagem Michael Corleone passa pois diante da saúde debilitada de seu pai e da incapacidade dos irmãos mais velhos acaba se tornando o "Don", quando seus planos para o futuro eram bem diferentes de encabeçar uma organização criminosa.
     O elenco conta com atores talentosos ( Richard Conte, Morgana King, Diane Keaton, Sterling Hayden etc), a música de Nino Rota cria o clima certo, os diálogos são marcantes, a produção e o figurino impecáveis e o resultado é um filme épico que considero o melhor de todos os tempos não apenas por suas qualidades técnicas mas também pela história criativa e seus personagens cativantes.

CONTINUA...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

George Orwell, Pink Floyd e Animais.

          Lançado em 1945, o livro "A Revolução dos Bichos" conta a história de uma revolta de animais ocorrido em uma fazenda. Tal  revolta se origina quando, cansados dos maus tratos e do desrespeito que sofrem por parte de seus donos, todos os animais se unem para expulsar os humanos e criar uma sociedade melhor. Os líderes são os porcos Napoleão e Bola-de-Neve e aos poucos os princípios ideológicos da revolução vão se perdendo o que culmina no exílio de Bola-de-Neve o no poderio opressor de Napolão.
     A obra é uma alegoria da Revolução Comunista Russa feita com animais e mostra que quem assumiu o poder fez as mesmas coisas que aqueles que foram destituídos dele. Grandes exemplos disso são as frases que vão mudando durante o livro: o lema "Todos os animais são iguais" se transforma em "Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros" e o afastamento dos filhotes de cachorro que longe de sua mãe são criados para intimidar e destruir os inimigos do regime.
     É interessante acompanhar o livro e ler os fatos históricos ocorridos na Rússia pois isso demonstra a decepção de Orwell com as consequências da Revolução Comunista e mostra que quase sempre na política a retórica é uma mas a postura adotada é outra. 

Animals
     
Faixas:
1 - Pigs on the Wing (part 1) - 1:25
2 - Dogs - 17:08
3 - Pigs (Three Different Ones) - 11:28
4 - Sheep - 10:20
5 - Pigs on the Wing (part 2) - 1:25
     
     Lançado em 1977 pela banda britânica Pink Floyd o álbum "Animals" é totalmente inspirado no livro acima descrito. Roger Waters o baixista, vocalista e principal compositor da banda aliou seu talento aos bandmates David Gilmour (guitarra e voz), Nick Mason (bateria) e Richard Wright( teclados) e concebeu aquele que considero o segundo melhor disco do grupo.
     O disco mantém a qualidade musical sempre presente nos trabalhos do Floyd e junta a isso letras ácidas para criticar o sistema capitalista relacionando cada animal com um determinado grupo. Os porcos (Pigs) são os políticos nojentos que comandam tudo, auxiliados pelos cães (Dogs) que cumprem suas ordens sendo cruéis e que deixam de lado suas emoções pessoais para acabar morrendo sozinhos e as ovelhas (Sheep) representam o restante da sociedade sendo manipulados para atender às necessidades e interesses dos dois primeiros grupos.
     As canções que iniciam e encerram o disco nos mostram que amando e nos importando com os outros podemos nos proteger dos porcos e dos cães e, na nossa sociedade, eles são muitos.

Rocky- O Eterno Lutador

  
     Existem filmes que ficam gravados pra sempre em nossas cabeças, seja por suas imagens ou pelas emoções que nos causam. Um bom exemplo disso é a hexalogia que conta a história de um lutador de boxe que estaria destinado à mediocridade se não soubesse aproveitar a grande chance que teve na vida e se não lutasse para que seus esforços não fossem em vão.
     Trata-se de Rocky Balboa, interpretado por Silvester Stallone, boxeador de uma vizinhança italiana pobre na Filadélfia, ele luta no clube de seu bairro por trocados e trabalha cobrando dívidas de agiotas para sobreviver. Tudo muda quando o campeão mundial, em uma jogada publicitária, Apollo "O Doutrinador" Creed (Call Weathers) perde seu desafiante na disputa do título e resolve dar a um desconhecido a chance de enfrentá-lo e o escolhido é Rocky. Disposto a não se deixar virar motivo de piada e saco de pancadas do campeão Balboa resiste bravamente a uma luta de 15 assaltos e em certos momentos se sobressaI ao "Doutrinador".
     Lançado em 1976 "Rocky-Um Lutador" fez um enorme sucesso, pois surgiu em uma época de crise econômica e que a política dos EUA também estava desacreditada devido à Guerra do Vietnã, tornando o personagem um símbolo de esperança e determinação. O filme também mostra as relações pessoais de Rocky enfatizando seu romance com a bela Adryan (Talia Shire) e sua conturbada e depois produtiva relação com o treinador Mickey (Burgess Meredith). Com a emblemática música "Gonna Fly Now" escrita por Bill Conti e dirigido por Johm G. Avildsen a obra emociona e nos ensina que por mais poderosos que sejam nossos adversários o importante  é sabermos nos levantar a cada golpe que recebemos da vida e nunca desistirmos por pior que pareça a situação.
     Seqüências
     O sucesso alcançado por "Rocky-Um Lutador" foi tão grande que no ano de 1979 foi lançado "Rocky II-A Revanche", nesse filme após perder o dinheiro conseguido na luta contra Apollo e ser proibido de lutar por motivos médicos Balboa aceita uma nova luta contra o desacreditado campeão. Com a mesma qualidade do anterior "Rocky II" tem cenas emocionantes como a corrida em que Balboa é seguido por várias crianças e a luta final. A vida pessoal do lutador também é evidenciada por suas dificuldades financeiras e pelo nascimento de seu filho Rocky Jr.
     Em "Rocky III-O Desafio Supremo" de 1982, um agora milionário campeão Rocky Balboa deve enfrentar a si mesmo, recuperar o "olho do tigre" que sua vaidade o fez perder para derrotar seu mais poderoso adversário Clubber Lang (Mister T.). Para superar esses desafios ele conta com a ajuda inusitada de Apollo Creed.
     "Rocky IV" de 1985, é um filme simbólico do período de Guerra Fria e coloca o boxeador soviético Ivan Drago (Dolph Lundgren) como o oponente de Balboa em uma luta emocionante. O filme também mostra a trágica morte de Apollo durante um combate com o gigante soviético e trata de dopping ao relatar a preparação de Drago. A superação de Rocky na luta final ante a hostilização sofrida na URSS e um clip que recapitula eventos dos filmes anteriores também são destaques.
     "Rocky V" lançado em 1990 mostra a decadência de Balboa depois que seu contador lhe aplica um golpe e o lutador perde sua fortuna tendo que voltar a morar no seu antigo bairro, lá ele descobre um jovem talento que mais tarde se vira contra ele e deve lidar com o filho adolescente.
     Em 2007 chegou aos cinemas "Rocky Balboa", filme que serviu para por um fim digno na saga do grande campeão após a fraquissíma quinta parte. Com uma estrutura muito semelhante ao filme de 1976 o sexto filme mostra Rocky víuvo e com dificuldades pra se relacionar com o filho. Vivendo como proprietário de um restaurante italiano Balboa se dedica a uma luta de exibição contra o atual campeão mundial Mason Dixon, que é criticado por ter apenas lutas "fáceis" e em uma simulação virtual feita por um programa de TV perde uma luta para Balboa fato este que o deixa mais desacreditado, e nesse combate Rocky luta para permanecer de pé em uma luta que representa toda sua vida, suas batalhas pessoais e nos mostra que mesmo velho e sem a mesma força de antes a idade não importa porque Rocky Balboa será um eterno lutador.        

sábado, 13 de novembro de 2010

Assustadoramente Encantadora


     Filmes sobre lindas crianças maléficas sempre fazem sucesso pois para o público é interessante uma idéia tão antagônica quanto um ser adorável ser na verdade perverso. Bons exemplos disso são os filmes da série "A Profecia" e também "O Anjo Malvado". No ano de 2009 uma nova criança passou a fazer parte desse grupo, ela é lindinha, se veste e é cordial como uma dama, tem um belo sotaque russo, atende pelo nome de Esther (interpretada com muita competência pela atriz mirim Isabelle Fuhrman) e estrela o filme "A Orfã".
     O filme se inicia com Kate Coleman (Vera Farmiga) chegando ao hospital com seu marido John (Peter Sarsgaard) e dando a luz a um bebê banhado em sangue, na verdade trata-se de um pesadelo pois Kate acabara de perder aquela que seria sua terceira criança. Em seu luto o casal resolve adotar uma criança para que ela receba todo o amor que era destinado ao bebê não nascido e é assim que conhecem e adotam a pequena Esther de 9 anos de idade. A princípio a inteligente e articulada garotinha se mostra frágil, pois perdeu seus últimos pais adotivos em um incêndio anos antes, porém aos poucos se revela agressiva e perigosa machucando colegas de escola e cometendo assassinatos, colocando em risco além do casal Coleman seus dois filhos Daniel (Jimmy Bennett) e Max (Aryanna Enginner).
     Com elementos bem pensados, como por exemplo os gritos de Esther e o fato da garotinha enganar a psicóloga, o roteiro caminha desenvolvendo cada um dos personagens ( a mãe alcoólatra e desconfiada , o pai descrente, o filho ameaçado e a filha cúmplice) pois cada um deles guarda algum segredo, dá bons sustos nos espectadores e caminha para um final surpreendente quando é revelada a origem de Esther. O elenco empresta credibilidade ao projeto, todos os elementos são bem coordenados pelo diretor Jaumett Colett-Serra e com uma mistura de drama, suspense e terror "A Orfã" prende a atenção do público enquanto somos conduzidos à descoberta do significado da frase presente no poster do filme "Há algo estranho com Esther" e realmente chegamos a conclusão que essa garota tem sérios problemas.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Invenção Da Mentira

     
     "Todo mundo mente", já diria o Dr. House,  e isso é a mais pura verdade. No dia-a-dia todos dizemos pequenas mentiras as vezes para nos livrar de coisas ruins ou para agradar pessoas que gostamos. Mas como seria um mundo em que as pessoas não soubessem mentir?
     Pensando nisso o britânico Rick Gervais- ator, roteirista e diretor- desenvolveu a história de "O Primeiro Mentiroso" (The Invention Of Lying, 2010) onde atua como o "gordinho de nariz arrebitado" Mark Bellison. O protagonista do filme vive em uma realidade onde todas as pessoas só dizem a verdade, trabalha como escritor de filmes (já que não existe a ficção os fatos históricos são narrados por estudiosos) e leva uma vida sem graça sendo constantemente humilhado pelos colegas de trabalho e por Anna (Jennifer Garner) a mulher por quem é apaixonado. Tudo muda quando de repente, Mark descobre que pode dizer coisas que não são reais e aproveita essa habilidade para obter vantagens em sua vida pessoal, profissional e consolar sua mãe moribunda prometendo a ela o paraíso.
    Com a habilidade de mentir Bellison cria a religião, ou seja, uma crítica de Gervais a todo o messianismo de nossa sociedade por vezes comandado por charlatãos que querem apenas tirar vantagem da fé alheia ou que não sabem sobre o que estão falando.O filme parte de uma premissa extremamente interessante e seus diálogos onde as pessoas só dizem a verdade são hilários.O elenco contribuí para a qualidade da obra pois os atores são em sua maioria comediantes consagrados e competentes como Tina Fey, Rob Lowe, Jonah Hill, etc.
     Mesmo com um final previsível a obra tem um diferencial em relação às comédias hollywoodianas contemporâneas e diverte com suas piadas inteligentes além de nos ensinar que as vezes podemos até mentir mas que dizer a verdade, seja ela qual for, pode ser melhor."O Primeiro Mentiroso" é sem dúvida um dos melhores filmes lançados este ano e isso caros leitores, não é mentira.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quem Vigia Os Vigilantes?

  
     Nos últimos anos Hollywood aproveitou-se da evolução dos efeitos especiais computadorizados e do fascínio das pessoas por super-heróis para criar diversas adaptações de histórias em quadrinhos. Algumas dessas adaptações decepcionaram os fãs entretanto outras foram fiéis a suas origens mantendo os elementos consagrados nos gibis e arrebanharam mais seguidores aos séquitos dos super-poderosos.
     Um dos melhores filmes dessa safra adapta uma graphic novel do quadrinista inglês Allan Moore lançada nos anos 1986 e 1987. "Watchmen" conta a história nada convencional de um grupo de mascarados que foi proibido por lei de atuar contra a criminalidade. A história começa com o assassinato de Edward Blake (Jeffrey Dean Morgan) que atuava como o "Comediante", a investigação de sua morte é conduzida por Rorschach (Jackie Earle Haley ) que acredita que o assassinato de Blake seja o princípio de um morticínio de antigos heróis. Rorschach resolve alertar Dan Dreidberg (Patrick Wilson) o "Coruja", Adrian Veidt (Matthew Goode) "Ozymandias", Laurie Juspeczyk ( Malin Ackerman) a Spectral II e Dr. Manhattan (Billy Cudrup). No entanto a investigação de Rorschach o leva a descobrir uma trama que envolve muito mais do que um simples assassinato e inclui um plano para conseguir a paz mundial através de uma grande tragédia.
     O grande diferencial de Watchmen está na falta de escrúpulos de seus personagens (todos são problemáticos, violentos, atormentados e imorais) e vários flashbacks ajudam a entender seus comportamentos. Além desse elemento interessante a história se passa numa versão alternativa do ano de 1985 onde Richard Nixon é o presidente dos EUA pela 3ª vez e a III Guerra Mundial está prestes a acontecer. A magnifica cena de abertura do filme ao som de "The Times They're Changin" de Bob Dylan contextualiza os eventos históricos dessa versão diferenciada da história mundial e mostra um pouco do apogeu dos heróis que precederam os acima citados quando não era proibido lutar contra o crime.
     Com uma leve alteração em relação ao final das hq's o filme é mais enxuto que sua contra-parte de papel, eliminando assim sub-tramas desnecessárias mas sem desrespeitar o material original. Além disso o elenco está ótimo, a trilha sonora é eclética e caprichada. O resultado do trabalho do diretor Zack Snider é diferenciado em relação a um tema muito explorado e além de divertir deixa uma interessante questão no ar: a humanidade está preparada para viver em paz?

Deckard, Afinal...


     Acredito que o poder de qualquer manifestação artística esteja no modo como o público a recebe, cada um interpretando de acordo com sua subjetividade, e como ela resiste ao teste do tempo. Muitas obras só são compreendidas depois de muitos anos de sua criação e mesmo depois de muito tempo tendem a gerar novas discussões em torno das motivações dos artistas responsáveis pelas suas criações. Pensando nisso resolvi escrever sobre um dos melhores filmes de todos os tempos ,não só pelas suas abundantes qualidades mas também pelas inúmeras discussões a respeito da "natureza" do personagem principal Rick Deckard, trata-se do clássico de 1982 dirigido por Ridley Scott "Blade Runner".
     O filme se passa em futuro caótico e poluído e é ambientado na cidade de Los Angeles no ano de 2019. Nesse futuro as máquinas se tornaram tão inteligentes que desenvolveram a capacidade de pensar por si próprias e são utilizadas para trabalhos nas colônias extraterrestres, com forma humana os chamados replicantes as vezes dão problemas e cabe aos blade runners cuidar de sua eliminação. Rick Deckard (Harrison Ford) um blade runner aposentado recebe a função de eliminar 4 replicantes de última geração que fugiram após um motim e estão no planeta Terra em busca de seu criador Eldon Tyrell (Joe Turkell) para pedir-lhe mais longevidade já que suas vidas estão programadas para apenas 4 anos. 
     Antes de iniciar sua caçada Deckard deve testar um  modelo de robô para aprender a identificar os padrões dos novos replicantes, é assim que ele conhece Rachel (Sean Young) uma andróide que possuí memórias e desconhece sua gênese mecânica. Ao longo de sua missão o blade runner enfrenta suas vítimas e também se apaixona por Rachel fato este que gera nele diversas dúvidas.
     Com um visual espetacular, uma trilha sonora marcante do grego Vangelis, um ótimo elenco,uma direção competente e uma história excelente história adaptada do livro "Do Androids Dream Of Eletric Sheep?" escritor Philip K. Dick ( entretando o filme é melhor que o livro) a obra "hipnotiza" o espectador com seus questionamentos existenciais. Os andróides buscam uma identidade, uma vida e esse contexto cria cenas belíssimas como Rachel se refugiando no apartamento de Deckard e Roy Batty (Rutger Hauer) na chuva valorizando a vida alheia acima de tudo e citando uma das mais belas frases da história do cinema.
     A grande dúvida do filme, que surgiu devido ao lançamento da versão do diretor em 1992 ( e posteriores relançamentos com cenas inéditas ou retiradas da versão original) , é se Rick Deckard era também um andróide. Diversas cenas baseiam teorias tantos dos que acreditam nessa hipótese quanto dos que não acreditam. Quando lançado "Blade Runner" foi um fracasso de bilheteria mas hoje em dia é cultuado por milhões de fãs no mundo todo que aos poucos foram descobrindo o filme e a questão sobre a origem de Deckard persiste. Tenho minha opinião e convido meus queridos leitores a conhecerem a obra e tomar uma decisão por si mesmos porque é nisso que a arte se baseia, descobertas e discussões. Deckard, afinal...era um replicante? 

Obras-Primas Perdidas...Serpico


     Infelizmente todos nós sabemos que a corrupção faz parte de nossos cotidianos, ela está estampada diariamente nos jornais e infiltrada em várias camadas da sociedade, sobretudo na política. Outro fato conhecido é que a corrupção transpõe barreiras e não conhece limites nem fronteiras. Muitos dos que lutaram e continuam lutando contra as sujeiras da sociedade fatalmente acabam encontrando um fim trágico e se tornam mártires de causas nobres, outros sobrevivem e tornam-se exemplos de honestidade e perseverança.
     O post de hoje tem o propósito de enaltecer um homem cuja  luta foi tão exemplar que sua saga se transformou em um filme estrelado pelo grande ator Al Pacino (que passa por uma interessante transformação física ao longo da obra) e dirigido por Sidney Lumet, um diretor habituado a fazer filmes com uma densa crítica social , trata-se de "Serpico" do ano de 1973.
     O princípio do filme mostra o policial Frank Serpico sendo conduzido para o hospital em uma ambulância após ter sido baleado no rosto e encontrar-se em estado grave. A maior parte do filme é um flashback que serve para mostrar ao público como o policial chegou nessa situação. Quando se formou na academia de polícia  na cidade de Nova York  Serpico era um idealista obstinado pela justiça e se incomodava até com o fato do dono de um restaurante fornecer comida grátis aos policiais. Trabalhando a paisana e buscando sempre subir na carreira os poucos ele percebe que a corrupção policial existe e tenta livrar-se dela mudando diversas vezes de distrito. 
     Ao tentar expor a verdade sobre as propinas recebidas pelos policias Serpico passa a ser perseguido e hostilizado pelos colegas encontrando barreiras não somente entre os parceiros de profissão, que se incomodam com o fato dele não aceitar dinheiro sujo e que mais tarde passam a revistá-lo diariamente em busca de escutas, mas também nas esferas mais altas da polícía e também aos políticos aos quais tenta recorrer. Vendo sua vida pessoal ruir Frank passa a batalhar sozinho em busca de uma solução para seus problemas batendo de frente com todo o sistema falho do qual não quer fazer parte para ter que cumprir o trabalho que tanto gosta.
     Tudo isso culmina com o atentado contra a vida de Serpico relatado no início do texto e sua sobrevivência lhe dá a chance de expor em um inquérito toda a torpeza que presenciou. O filme adapta o livro escrito por Peter Maas e é baseado em fatos reais. Como conseqüência de sua luta Serpico teve que se exilar na Suíça devido ao risco que sua vida continuava correndo, mas sua história nos mostra que devemos lutar pelo que acreditamos mesmo que as vezes estejamos sozinhos contra algo tão poderoso e traiçoeiro (que as vezes se esconde onde menos esperamos) que é a corrupção.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Scott Pilgrim, Contra O Mundo E Fazendo Cinema De Qualidade

     Como combinar elementos de videogames com histórias em quadrinhos na linguagem do cinema e criar um filme extremamente divertido e inovador? O talentoso diretor britânico Edgar Wrigth, dos excelentes e desvalorizados "Todo Mundo Quase Morto" e "Chumbo Grosso", pode responder essa pergunta afinal ele é o responsável pelo "delírio" que é assistir "Scott Pilgrim Contra O Mundo" ( Scott Pilgrim vc. The World, 2010) um dos melhores filmes desse ano.
     O filme adapta para as telas as hq's de Bryan Lee O' Malley e já possuí um diferencial bacana em sua ambientação na bela e fria cidade de Toronto, Canadá. Scott Pilgrim (o sempre competente Michael Cera) é um jovem de 22 anos baixista da banda Sex-Bob-Omb e que há um ano atrás teve o coração partido pela atual estrela de rock do momento Envy Adams ( a bela e excelente cantora, Brie Larson), prosseguindo com sua vida Scott conhece a chinesa de 17 anos Knives Chao (Ellen Wong), fato este encarado de maneira negativa por seus amigos e sua irmã Stacey (Anna Kendrick). As coisas começam a mudar quando Scott sonha com uma bela patinadora e ao descobrir  que ela é real decide tentar conquistá-la e deixa de lado sua relação com Knives. A garota dos sonhos de Pilgrim atende pelo nome de Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) é americana e se mudou para o Canadá tentando deixar seu passado para trás. O que Scott  não sabe mas que vai descobrir de maneira dolorosa fisicamente é que ele deve derrotar "A Liga Dos Sete Ex Malignos" (que tem o propósito de "cuidar" da vida amorosa de Ramona) para poder continuar namorando a garota que ama.  
       Não é  apenas pelo seu mote interessante que "Scott Pilgrim Contra o Mundo" se destaca. O desenvolvimento de seu roteiro é muito bem executado tanto na evolução dos personagens quanto no desenrolar das  situações vividas pelo protagonista, situações essas extremamente hilárias como a homenagem feita à série "Seinfeld" .Todo o elenco está afiado com destaque para os coadjuvantes Wallace (Kieran Culkin) o colega de quarto gay de Scott, Julie (Aubrey Plaza) a vendedora mal-humorada da loja de cd's, os bandmates de Pilgrim Stephen (Marc Webber) vocalista, Kim (Alison Pill) a baterista e "Young" Neil (Johnny Simmons) amigo dos membros do Sex-Bob-Omb.   
     Todos os vilões que Scott enfrenta ,além de marcantes e carismáticos, possuem um poder diferente, com destaque para o pirotécnico Matthew Patel (Shatya Bhabha), o ator de filmes de ação e skatista Lucas Lee (Chris Evans), o baixista e idiota Todd (Brandon Routh) e Roxy (Mae Whitman). 
     Além dos fatores acima citados o filme é um deleite visual da primeira à última cena, com diversas onomatopéias e quadros explicativos sobre os personagens a história corre como um jogo da Nintendo (empresa que liberou vários sons de seus jogos) com direito a "VS" antes do ínicio das lutas (muito bem coreografadas e nesse quesito as habilidades do magrelo Michael Cera surpreendem) , "K.O" quando elas acabam além de tantas outras divertidas soluções visuais que deixam tudo mais engraçado. 



     A trilha sonora é fantástica e tanto a banda de Scott quanto as outras que aparecem no decorrer do filme  como "Crash And The Boys" e "Clash At Demonhead" apresentam belas performances de bom rock 'n' roll com músicas como  "We Are Sex Bob-Omb", "Black Sheep", "Threshold", "Garbage Truck", "So Sad", "I Hate Please Die" e minha favorita "I Heard Ramona Sing".

     Assistir a esse filme é muito mais do que embarcar em uma bela viagem visual e sonora, durante sua  projeção aprendemos através da história de um jovem apaixonado e que também faz besteira, que talvez mais importante do que estar bem com as pessoas que amamos, antes temos que estar bem com nós mesmos, Scott Pilgrim luta contra o mundo para saber que deve ter acima de tudo auto-respeito. Edgar Wright leva ao público um filme divertido, criativo (apesar de se tratar de uma adaptação), bem feito e que acima de tudo é uma demonstração de que ainda é possível fazer cinema com muita qualidade desde que exista paixão e respeito pelo material a ser trabalhado coisa que infelizmente é escassa na produção cinematográfica dos dias de hoje. K.O!!!  

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Obras-Primas Perdidas...De Volta Ao Vale Das Bonecas


     Russ Meyer foi um dos diretores mais polêmicos e geniais que já passou por Hollywood. Antes de ser cineasta Meyer foi cinegrafista de batalhas da  II Guerra Mundial e um dos primeiros fotógrafos da revista "PLAYBOY", seus filmes independentes e criativos foram  grandes expoentes da sexploitation (exploração da sexualidade) nos anos 60 e 70 e aficcionado por seios grandes como era  suas obras ganharam notoriedade pelas belas atrizes exibindo seus dotes.
     O único filme concebido por Russ Meyer produzido por um grande estúdio é exatamente o tema do post de hoje. Trata-se do que muitos (inclusive eu) consideram a obra-prima desse controverso cineasta, ou seja, "De Volta Ao Vale Das Bonecas" (Beyond The Valley of the Dolls, 1970). Ao assistir Vixen! (idem, 1968) os executivos da Fox se impressionaram com a qualidade de produção do filme, devido ao seu baixo orçamento de apenas 70 mil dólares, e contrataram Meyer para que junto do crítico de cinema Roger Ebert criassem a continuação do sucesso "O Vale Das Bonecas" ( Valley of the Dolls, 1967) estrelado pela belíssima Sharon Tate. Entretando a autora do livro que deu origem ao filme de 1967, Jacqueline Susann, vetou o projeto e coube a Meyer e Ebert criar uma sátira daquele universo abordado em "Vale Das Bonecas" até porque nenhum deles havia lido o livro de Sussan e tudo isso é explicado nos letreiros logo no início do filme.  
     "De Volta Ao Vale Das Bonecas" conta a história de uma banda de rock chamada "The Kelly Affair" que é formada por três lindas garotas, algo impensável para a época em que o filme foi produzido, são elas Kelly (Dolly Read) vocalista e guitarrista , Casey (Cynthia Myers) baixista e Pet (Marcia Mc Broom) baterista. Cansadas de tocar em bailes escolares elas partem para Los Angeles junto de seu empresário ,e também namorado da vocalista, Harris (David Gurian) onde pretendem buscar a fama e onde Kelly irá procurar por sua tia Susan Lake (Phyllis Davis) para reinvidicar parte de uma herança de família. Susan Lake, uma bem sucedida e relacionada publicitária, logo apresenta a banda ao empresário musical Ronnie "Z-Man" Barzell (um impecável e shakespeariano John La Zar) em uma festa e partir daí o grupo muda de nome passando a se chamar "The Carrie Nations"  e alcança a fama rapidamente. Porém junto com o sucesso surgem os excessos hedonísticos como sexo e drogas e aos poucos as garotas começam a se sentir perdidas quando suas vidas tomam rumos inesperados.
   Criado em uma época marcada pela liberação da juventude quanto a sua sexualidade, a ascenção e  o desenvolvimento do rock 'n' roll" e o movimento hippie  entre outros acontecimentos marcantes, o filme tem características psicodélicas e conseguiu captar e registrar muito bem o clima  daqueles  tempos com suas cores excessivas e sua excelente trilha sonora com destaque para as canções "Find It", "Come With The Gentle People", "Look On Up At The Bottom" e "In The Long Run". Um dos pontos baixos do filme é seu belo elenco , uma vez que Meyer não trabalhava com atores profissionais devido aos custos que isso traria, mas destaca-se John La  Zar cujo personagem é responsável pela reviravolta do final do filme (que remete aos assassinatos cometidos pelos seguidores de Charles Manson). O roteiro exagerado e caricato varia seu tom pontuando o filme com momentos dramáticos, engraçados e românticos transformando a obra em um amálgama cinematográfico que é impossível definir em apenas um gênero.
     Com a ousadia habitual de Meyer (que presenteia o público com uma bela cena de amor entre duas  lindas mulheres), uma história bacana, aspectos técnicos impecáveis e uma bela mensagem de amor o filme está entre as Obras-Primas Perdidas porque infelizmente os trabalhos desse grande artista são pouco conhecidos no Brasil.

domingo, 24 de outubro de 2010

Warriors... Come Out To Play.

   
     Lançado em 1979 “Warriors-Os Selvagens Da Noite”, dirigido por Walter Hill, combina elementos cinematográficos que o qualificam a figurar entre os melhores filmes de sua década. Com um roteiro inteligente, um bom elenco jovem e um diretor competente a obra conta de maneira emocionante uma história de sobrevivência nas ruas da cidade de New York.
     Cyrus (Roger Hill) é o líder da maior gangue da cidade, os "RIFFS", e reúne todas as  outras gangues no Central Park, sob a condição de trégua e que nenhuma delas levasse armas ao encontro, para fazer um proposta: unir todas as gangues em uma só e com um contingente maior que o de policiais dominar toda a cidade. Porém Cyrus é assassinado por Luther (David Patrick Kelly) líder dos "ROGUES". Além de quebrar as regras da reunião Luther ainda faz com que a culpa recaia sobre os "WARRIORS"( guerreiros), oriundos de Coney Island, que passam a ser caçados por toda a cidade pelas outras gangues, agora cabe a Swan (Michael Beck) lídera-los enquanto eles devem atravessar toda a cidade para voltar ao seu território enfrentando os  rivais e lidando com outros  problemas que vão surgindo em seu caminho.
     Todas as dificuldades enfrentadas pelos "guerreiros" criam cenas tensas e cheias de ação mas não é só nesses aspectos que reside o poder do filme. Pertencer a uma gangue em uma comunidade pobre pode ser a única chance de notoriedade e respeito que um jovem sem perspectivas de futuro pode obter. Esse conceito fica explícito em três cenas em especial: quando Swan  recusa uma oferta para que ele e seus comandados retirem seus coletes com o logo dos "WARRIORS" em troca de passe livre por um bairro inimigo, quando em um diálogo com Mercy (Deborah Van Valkenburgh) o mesmo Swan diz que não existe esperança de melhoras em sua vida e quando dentro de um trem os "guerreiros" encontram 2 casais de jovens abastados (o silêncio constrangedor evidencia as desigualdades sociais). 
     Imagino que talvez o desespero dos "WARRIORS" não seja apenas atingir seu território e obter segurança mas também estarem seguros consigo mesmo, pois eles tem a vida toda pela frente e não sabem como conduzi-la fora de sua estimada gangue.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tropa De Elite

     Lançado no ano de 2007, "Tropa De Elite" narra o cotidiano e as agruras do Capitão Roberto Nascimento ,brilhantemente interpretado por Wagner Moura, comandante da equipe ALFA do BOPE ( Batalhão de Operações Especiais) em sua busca por um substituto, pois sua esposa Rosane (Maria Ribeiro) está grávida. Ambientado no ano de 1997 e narrado pelo protagonista o filme também mostra paralelamente dois aspirantes da PM do Rio de Janeiro e grandes amigos, Neto (Caio Junqueira) e André Matias ( André Ramiro), até que seus caminhos cruzem  com o de Nascimento.
     Ao entrar na PM e conviver com o Cap. Fábio (Milhem Cortaz) os supracitados "aspiras" encontram diversos obstáculos para a execução de seu trabalho ante a corrupção existente dentro da corporação policial. Nas ruínas da oficina o estourado Neto não consegue verbas para fazer os reparos necessários nas viaturas e ainda tem que lidar com o fato de seus superiores não se importarem com o furto de motores novos dentro do próprio batalhão apenas para citar um exemplo. Já para o inteligente Matias sobra a organização das ocorrências, trabalho este que, quando concluído gera estatísticas que tem por objetivo salvaguardar os cidadãos mas também é ignorado pelos superiores. Ao aprofundar-se nesse "Sistema" e tentar lutar contra ele Neto e Matias acabam em uma situação de extremo perigo que força a intervenção de Nascimento e sua equipe. Impressionados com a eficácia do BOPE, os aspirantes inscrevem-se no curso de formação das Operações Especiais e caberá a um deles substituir um  emocionalmente combalido Cap. Nascimento. 
     "Tropa De Elite" defende que as incursões do BOPE nas favelas cariocas são consequência do uso de drogas por parte das classes mais abastadas e não por acaso estão presentes na trama os universitários Maria (Fernanda Machado), Roberta (Fernanda de Freitas) e Edu (Paulo Vilela) ,sendo que, este último além de usuário também é traficante. O filme causou polêmica pelas suas cenas de tortura e violência e pelo discurso radical de Nascimento. Quando o filme vazou na Internet e se tornou alvo da pirataria, alcançou um público estimado em 11 milhões de pessoas (nos cinemas apenas 2,5 milhões) e criou um fenômeno cultural sem precedentes na cultura brasileira com a repetição de seus bordões. Mas vale lembrar que mais do que um  "filme de momento", "Tropa De Elite" tem algo extremamente relevante a ser dito sobre a violência urbana e com seu carisma e usando a farda preta utilizada pelos soldados do BOPE, Nascimento se faz ouvir com eloquência.
Coronel Nascimento Osso Duro De Roer...

      No recém lançado "Tropa De Elite 2-O Inimigo Agora É Outro" Roberto Nascimento enfrenta esferas mais altas de corrupção, uma vez que, os policiais corruptos mostrados no primeiro filme acabam se tornando "peixes pequenos" perante toda a sujeira e torpeza apresentada nessa sequência. 
     Passados alguns anos desde os eventos do primeiro filme Nascimento agora é Coronel e logo no princípio do filme comanda a operação que tem por objetivo conter uma rebelião no presídio de Bangu 1. O desfecho dessa intervenção do Bope tem consequências distintas e definitivas para o Cel. e seu amigo e subordinado Cap. Matias, enquanto o primeiro é promovido a subsecretário de segurança do Rio de Janeiro o segundo é rebaixado e volta a usar a farda azul da PM convencional.
     Em seu novo cargo Nascimento transforma o BOPE em uma máquina de guerra que destrói a indústria do tráfico de entorpecentes no Rio de Janeiro, entretanto os policiais corruptos se adaptam e na falta do "arrego" oriundo dos traficantes assumem o comando das favelas fornecendo serviços como "proteção", tv a cabo, internet etc. Formam-se assim as milícias que são comandadas pelo Major Rocha (Sandro Rocha) e que por sua influência junto a população das favelas acabam se transformando em peças fundamentais para práticas eleitoreiras.  


     O "Sistema" apresentado no primeiro filme mostra-se no segundo possuir ramificações muito  maiores do que podemos imaginar e é capaz de tudo para manter seu poder, adaptando-se conforme suas necessidades. Para combater o "Sistema" quando sua família é jogada no meio do fogo cruzado e prosseguir em sua  incansável busca por justiça, Nascimento terá que usar suas habilidades como guerreiro e também lutar  por vias que não fazem parte de seu cotidiano. "Tropa De Elite 2..."  vai mais longe que seu antecessor pois possuí um inteligente viés político já que aliados aos policiais corruptos estão alguns deputados e até o governador do Rio de Janeiro.
CONCLUSÃO
     O roteiro de “Tropa de Elite” foi escrito pelo diretor do filme José Padilha e pelo roteirista Bráulio Mantovani através dos relatos do ex-capitão do BOPE Rodrigo Pimentel. A obra foi taxada de fascista na época de seu lançamento por muitos críticos e intelectuais por utilizar a visão do policial em relação ao problema da criminalidade. É claro que muitos que caem na marginalidade são pessoas que não tiveram chance na vida e não encontraram outra opção a não ser o crime (fato este que não é ignorado por Nascimento mas ele reage de acordo com sua função nesse cenário) entretanto vale lembrar que um policial é treinado para o combate e arrisca sua vida diariamente enfrentando a criminalidade sem poder hesitar no uso de violência em diversas situações. 
     Acreditando que esse contexto de violência urbana ainda tinha muito mais coisa a explorar -e impedindo que "Tropa De Elite" se transformasse em uma série de tv para não perder o controle artístico- Padilha e Mantovani desenvolveram a história da continuação que além das operações nas favelas e da corrupção da PM convencional se concentra nas dificuldades que Nascimento enfrenta perante a militância dos direitos humanos, a formação das milícias e a politicagem que tem por objetivo obter votos em detrimento da segurança da população.   
     Os embates entre o militante dos direitos humanos Diogo Fraga (Irandhir Santos) e Nascimento também se destacam no segundo filme pois tecem uma crítica sobre a retórica (dialogando diretamente com os detratores do primeiro filme) de quem as vezes se posiciona baseado apenas em aspectos teóricos, sem conhecer na prática as implicações reais daquilo que estão opinando e nesse aspecto destaca-se a frase do personagem de Wagner Moura logo no início da projeção:"Tem muito intelectualzinho de esquerda que ganha a vida defendendo vagabundo e o pior é que eles fazem a cabeça de muita gente.", ou seja, estando de fora é mais fácil julgar e também falar besteira. 

     Quero deixar bem claro que independentemente de qualquer posicionamento ideológico que você possa ter ao assistir os filmes o importante é refletir sobre esse tema tão polêmico e relevante pra nossa sociedade, para tal terminarei este post com mais uma  frase impactante de Nascimento: "Pra mudar as coisas vai demorar muito tempo. O "Sistema" é foda...ainda vai morrer muito inocente".CAVEIRA!!!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

...No Canto Direito Do Palco, The Ox...


       Nascido no dia 09 de outubro de 1944 John Alec Entwistle, baixista da lendária banda THE WHO e também chamado de Thunderfingers e The Ox, tinha um modo peculiar e impressionante de tocar baixo, compunha letras sarcásticas e inteligentes, se vestia de modo extravagante (em especial a roupa de caveira) e se destacava por seu comportamento calmo em cima do palco. Em uma banda onde o vocalista -Roger Daltrey- girava seu microfone de maneira insana, o guitarrista -Pete Townshend- pulava e tocava seu instrumento com muita intensidade e o baterista -Keith Moon- espancava a bateria era de se estranhar que o baixista  permanecesse imóvel no olho do furacão.
     Dono de um estilo único e revolucionário, que se caracterizava pelo modo de segurar o instrumento e seu dedilhado ao mesmo tempo sofisticado e agressivo, foi Entwistle o responsável pelo primeiro solo de baixo da história do rock 'n' roll na canção "My Generation". Mas não foi apenas tocando baixo que John  contribuiu para o The Who, o próprio Pete Townshend, que o conheceu na escola quando eram crianças e que era grande força criativa da banda, admite que sem o apoio do baixista talvez tivesse desistido da carreira de músico. Como compositor John Entwistle mostrou-se talentoso e diferenciado com destaque para "Boris The Spider", "My Wife" ( escrita após uma discussão com a esposa Allison) , "905" ( vide posts anteriores),  "The Quiet One" (uma resposta a todos que o achavam muito quieto) e "You".  
     Seu jeito aparentemente tímido e quieto escondia  um homem inteligente, sarcástico e muito engraçado. Muitas vezes Entwistle destruía quartos de hotel deixando a culpa recair sobre o bandmate Keith Moon e também filmou uma cena memorável para o documentário "The Kids Are Alright", onde utilizava uma metralhadora para destruir alguns discos de "ouro", simplesmente hilário.
     John Entwistle morreu no dia 27 de junho de 2002 em Las Vegas, aos 57 anos, de ataque cardíaco na véspera do início da turnê americana,deixando muita saudade e um respeitável legado musical que além de influenciar baixistas por décadas estará  no coração de cada fã. Em uma época em que falsos ídolos do rock usam ridículas calças coloridas vale a pena lembrar de um músico que não servia apenas para segurar o instrumento, mas sim extrair dele o melhor som possível contribuindo assim, para que o rock'n'roll evoluísse tornando-se parte da cultura popular e da ideologia de milhões de pessoas. Muito obrigado John.