quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Obras-Primas Perdidas...De Volta Ao Vale Das Bonecas


     Russ Meyer foi um dos diretores mais polêmicos e geniais que já passou por Hollywood. Antes de ser cineasta Meyer foi cinegrafista de batalhas da  II Guerra Mundial e um dos primeiros fotógrafos da revista "PLAYBOY", seus filmes independentes e criativos foram  grandes expoentes da sexploitation (exploração da sexualidade) nos anos 60 e 70 e aficcionado por seios grandes como era  suas obras ganharam notoriedade pelas belas atrizes exibindo seus dotes.
     O único filme concebido por Russ Meyer produzido por um grande estúdio é exatamente o tema do post de hoje. Trata-se do que muitos (inclusive eu) consideram a obra-prima desse controverso cineasta, ou seja, "De Volta Ao Vale Das Bonecas" (Beyond The Valley of the Dolls, 1970). Ao assistir Vixen! (idem, 1968) os executivos da Fox se impressionaram com a qualidade de produção do filme, devido ao seu baixo orçamento de apenas 70 mil dólares, e contrataram Meyer para que junto do crítico de cinema Roger Ebert criassem a continuação do sucesso "O Vale Das Bonecas" ( Valley of the Dolls, 1967) estrelado pela belíssima Sharon Tate. Entretando a autora do livro que deu origem ao filme de 1967, Jacqueline Susann, vetou o projeto e coube a Meyer e Ebert criar uma sátira daquele universo abordado em "Vale Das Bonecas" até porque nenhum deles havia lido o livro de Sussan e tudo isso é explicado nos letreiros logo no início do filme.  
     "De Volta Ao Vale Das Bonecas" conta a história de uma banda de rock chamada "The Kelly Affair" que é formada por três lindas garotas, algo impensável para a época em que o filme foi produzido, são elas Kelly (Dolly Read) vocalista e guitarrista , Casey (Cynthia Myers) baixista e Pet (Marcia Mc Broom) baterista. Cansadas de tocar em bailes escolares elas partem para Los Angeles junto de seu empresário ,e também namorado da vocalista, Harris (David Gurian) onde pretendem buscar a fama e onde Kelly irá procurar por sua tia Susan Lake (Phyllis Davis) para reinvidicar parte de uma herança de família. Susan Lake, uma bem sucedida e relacionada publicitária, logo apresenta a banda ao empresário musical Ronnie "Z-Man" Barzell (um impecável e shakespeariano John La Zar) em uma festa e partir daí o grupo muda de nome passando a se chamar "The Carrie Nations"  e alcança a fama rapidamente. Porém junto com o sucesso surgem os excessos hedonísticos como sexo e drogas e aos poucos as garotas começam a se sentir perdidas quando suas vidas tomam rumos inesperados.
   Criado em uma época marcada pela liberação da juventude quanto a sua sexualidade, a ascenção e  o desenvolvimento do rock 'n' roll" e o movimento hippie  entre outros acontecimentos marcantes, o filme tem características psicodélicas e conseguiu captar e registrar muito bem o clima  daqueles  tempos com suas cores excessivas e sua excelente trilha sonora com destaque para as canções "Find It", "Come With The Gentle People", "Look On Up At The Bottom" e "In The Long Run". Um dos pontos baixos do filme é seu belo elenco , uma vez que Meyer não trabalhava com atores profissionais devido aos custos que isso traria, mas destaca-se John La  Zar cujo personagem é responsável pela reviravolta do final do filme (que remete aos assassinatos cometidos pelos seguidores de Charles Manson). O roteiro exagerado e caricato varia seu tom pontuando o filme com momentos dramáticos, engraçados e românticos transformando a obra em um amálgama cinematográfico que é impossível definir em apenas um gênero.
     Com a ousadia habitual de Meyer (que presenteia o público com uma bela cena de amor entre duas  lindas mulheres), uma história bacana, aspectos técnicos impecáveis e uma bela mensagem de amor o filme está entre as Obras-Primas Perdidas porque infelizmente os trabalhos desse grande artista são pouco conhecidos no Brasil.

domingo, 24 de outubro de 2010

Warriors... Come Out To Play.

   
     Lançado em 1979 “Warriors-Os Selvagens Da Noite”, dirigido por Walter Hill, combina elementos cinematográficos que o qualificam a figurar entre os melhores filmes de sua década. Com um roteiro inteligente, um bom elenco jovem e um diretor competente a obra conta de maneira emocionante uma história de sobrevivência nas ruas da cidade de New York.
     Cyrus (Roger Hill) é o líder da maior gangue da cidade, os "RIFFS", e reúne todas as  outras gangues no Central Park, sob a condição de trégua e que nenhuma delas levasse armas ao encontro, para fazer um proposta: unir todas as gangues em uma só e com um contingente maior que o de policiais dominar toda a cidade. Porém Cyrus é assassinado por Luther (David Patrick Kelly) líder dos "ROGUES". Além de quebrar as regras da reunião Luther ainda faz com que a culpa recaia sobre os "WARRIORS"( guerreiros), oriundos de Coney Island, que passam a ser caçados por toda a cidade pelas outras gangues, agora cabe a Swan (Michael Beck) lídera-los enquanto eles devem atravessar toda a cidade para voltar ao seu território enfrentando os  rivais e lidando com outros  problemas que vão surgindo em seu caminho.
     Todas as dificuldades enfrentadas pelos "guerreiros" criam cenas tensas e cheias de ação mas não é só nesses aspectos que reside o poder do filme. Pertencer a uma gangue em uma comunidade pobre pode ser a única chance de notoriedade e respeito que um jovem sem perspectivas de futuro pode obter. Esse conceito fica explícito em três cenas em especial: quando Swan  recusa uma oferta para que ele e seus comandados retirem seus coletes com o logo dos "WARRIORS" em troca de passe livre por um bairro inimigo, quando em um diálogo com Mercy (Deborah Van Valkenburgh) o mesmo Swan diz que não existe esperança de melhoras em sua vida e quando dentro de um trem os "guerreiros" encontram 2 casais de jovens abastados (o silêncio constrangedor evidencia as desigualdades sociais). 
     Imagino que talvez o desespero dos "WARRIORS" não seja apenas atingir seu território e obter segurança mas também estarem seguros consigo mesmo, pois eles tem a vida toda pela frente e não sabem como conduzi-la fora de sua estimada gangue.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tropa De Elite

     Lançado no ano de 2007, "Tropa De Elite" narra o cotidiano e as agruras do Capitão Roberto Nascimento ,brilhantemente interpretado por Wagner Moura, comandante da equipe ALFA do BOPE ( Batalhão de Operações Especiais) em sua busca por um substituto, pois sua esposa Rosane (Maria Ribeiro) está grávida. Ambientado no ano de 1997 e narrado pelo protagonista o filme também mostra paralelamente dois aspirantes da PM do Rio de Janeiro e grandes amigos, Neto (Caio Junqueira) e André Matias ( André Ramiro), até que seus caminhos cruzem  com o de Nascimento.
     Ao entrar na PM e conviver com o Cap. Fábio (Milhem Cortaz) os supracitados "aspiras" encontram diversos obstáculos para a execução de seu trabalho ante a corrupção existente dentro da corporação policial. Nas ruínas da oficina o estourado Neto não consegue verbas para fazer os reparos necessários nas viaturas e ainda tem que lidar com o fato de seus superiores não se importarem com o furto de motores novos dentro do próprio batalhão apenas para citar um exemplo. Já para o inteligente Matias sobra a organização das ocorrências, trabalho este que, quando concluído gera estatísticas que tem por objetivo salvaguardar os cidadãos mas também é ignorado pelos superiores. Ao aprofundar-se nesse "Sistema" e tentar lutar contra ele Neto e Matias acabam em uma situação de extremo perigo que força a intervenção de Nascimento e sua equipe. Impressionados com a eficácia do BOPE, os aspirantes inscrevem-se no curso de formação das Operações Especiais e caberá a um deles substituir um  emocionalmente combalido Cap. Nascimento. 
     "Tropa De Elite" defende que as incursões do BOPE nas favelas cariocas são consequência do uso de drogas por parte das classes mais abastadas e não por acaso estão presentes na trama os universitários Maria (Fernanda Machado), Roberta (Fernanda de Freitas) e Edu (Paulo Vilela) ,sendo que, este último além de usuário também é traficante. O filme causou polêmica pelas suas cenas de tortura e violência e pelo discurso radical de Nascimento. Quando o filme vazou na Internet e se tornou alvo da pirataria, alcançou um público estimado em 11 milhões de pessoas (nos cinemas apenas 2,5 milhões) e criou um fenômeno cultural sem precedentes na cultura brasileira com a repetição de seus bordões. Mas vale lembrar que mais do que um  "filme de momento", "Tropa De Elite" tem algo extremamente relevante a ser dito sobre a violência urbana e com seu carisma e usando a farda preta utilizada pelos soldados do BOPE, Nascimento se faz ouvir com eloquência.
Coronel Nascimento Osso Duro De Roer...

      No recém lançado "Tropa De Elite 2-O Inimigo Agora É Outro" Roberto Nascimento enfrenta esferas mais altas de corrupção, uma vez que, os policiais corruptos mostrados no primeiro filme acabam se tornando "peixes pequenos" perante toda a sujeira e torpeza apresentada nessa sequência. 
     Passados alguns anos desde os eventos do primeiro filme Nascimento agora é Coronel e logo no princípio do filme comanda a operação que tem por objetivo conter uma rebelião no presídio de Bangu 1. O desfecho dessa intervenção do Bope tem consequências distintas e definitivas para o Cel. e seu amigo e subordinado Cap. Matias, enquanto o primeiro é promovido a subsecretário de segurança do Rio de Janeiro o segundo é rebaixado e volta a usar a farda azul da PM convencional.
     Em seu novo cargo Nascimento transforma o BOPE em uma máquina de guerra que destrói a indústria do tráfico de entorpecentes no Rio de Janeiro, entretanto os policiais corruptos se adaptam e na falta do "arrego" oriundo dos traficantes assumem o comando das favelas fornecendo serviços como "proteção", tv a cabo, internet etc. Formam-se assim as milícias que são comandadas pelo Major Rocha (Sandro Rocha) e que por sua influência junto a população das favelas acabam se transformando em peças fundamentais para práticas eleitoreiras.  


     O "Sistema" apresentado no primeiro filme mostra-se no segundo possuir ramificações muito  maiores do que podemos imaginar e é capaz de tudo para manter seu poder, adaptando-se conforme suas necessidades. Para combater o "Sistema" quando sua família é jogada no meio do fogo cruzado e prosseguir em sua  incansável busca por justiça, Nascimento terá que usar suas habilidades como guerreiro e também lutar  por vias que não fazem parte de seu cotidiano. "Tropa De Elite 2..."  vai mais longe que seu antecessor pois possuí um inteligente viés político já que aliados aos policiais corruptos estão alguns deputados e até o governador do Rio de Janeiro.
CONCLUSÃO
     O roteiro de “Tropa de Elite” foi escrito pelo diretor do filme José Padilha e pelo roteirista Bráulio Mantovani através dos relatos do ex-capitão do BOPE Rodrigo Pimentel. A obra foi taxada de fascista na época de seu lançamento por muitos críticos e intelectuais por utilizar a visão do policial em relação ao problema da criminalidade. É claro que muitos que caem na marginalidade são pessoas que não tiveram chance na vida e não encontraram outra opção a não ser o crime (fato este que não é ignorado por Nascimento mas ele reage de acordo com sua função nesse cenário) entretanto vale lembrar que um policial é treinado para o combate e arrisca sua vida diariamente enfrentando a criminalidade sem poder hesitar no uso de violência em diversas situações. 
     Acreditando que esse contexto de violência urbana ainda tinha muito mais coisa a explorar -e impedindo que "Tropa De Elite" se transformasse em uma série de tv para não perder o controle artístico- Padilha e Mantovani desenvolveram a história da continuação que além das operações nas favelas e da corrupção da PM convencional se concentra nas dificuldades que Nascimento enfrenta perante a militância dos direitos humanos, a formação das milícias e a politicagem que tem por objetivo obter votos em detrimento da segurança da população.   
     Os embates entre o militante dos direitos humanos Diogo Fraga (Irandhir Santos) e Nascimento também se destacam no segundo filme pois tecem uma crítica sobre a retórica (dialogando diretamente com os detratores do primeiro filme) de quem as vezes se posiciona baseado apenas em aspectos teóricos, sem conhecer na prática as implicações reais daquilo que estão opinando e nesse aspecto destaca-se a frase do personagem de Wagner Moura logo no início da projeção:"Tem muito intelectualzinho de esquerda que ganha a vida defendendo vagabundo e o pior é que eles fazem a cabeça de muita gente.", ou seja, estando de fora é mais fácil julgar e também falar besteira. 

     Quero deixar bem claro que independentemente de qualquer posicionamento ideológico que você possa ter ao assistir os filmes o importante é refletir sobre esse tema tão polêmico e relevante pra nossa sociedade, para tal terminarei este post com mais uma  frase impactante de Nascimento: "Pra mudar as coisas vai demorar muito tempo. O "Sistema" é foda...ainda vai morrer muito inocente".CAVEIRA!!!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

...No Canto Direito Do Palco, The Ox...


       Nascido no dia 09 de outubro de 1944 John Alec Entwistle, baixista da lendária banda THE WHO e também chamado de Thunderfingers e The Ox, tinha um modo peculiar e impressionante de tocar baixo, compunha letras sarcásticas e inteligentes, se vestia de modo extravagante (em especial a roupa de caveira) e se destacava por seu comportamento calmo em cima do palco. Em uma banda onde o vocalista -Roger Daltrey- girava seu microfone de maneira insana, o guitarrista -Pete Townshend- pulava e tocava seu instrumento com muita intensidade e o baterista -Keith Moon- espancava a bateria era de se estranhar que o baixista  permanecesse imóvel no olho do furacão.
     Dono de um estilo único e revolucionário, que se caracterizava pelo modo de segurar o instrumento e seu dedilhado ao mesmo tempo sofisticado e agressivo, foi Entwistle o responsável pelo primeiro solo de baixo da história do rock 'n' roll na canção "My Generation". Mas não foi apenas tocando baixo que John  contribuiu para o The Who, o próprio Pete Townshend, que o conheceu na escola quando eram crianças e que era grande força criativa da banda, admite que sem o apoio do baixista talvez tivesse desistido da carreira de músico. Como compositor John Entwistle mostrou-se talentoso e diferenciado com destaque para "Boris The Spider", "My Wife" ( escrita após uma discussão com a esposa Allison) , "905" ( vide posts anteriores),  "The Quiet One" (uma resposta a todos que o achavam muito quieto) e "You".  
     Seu jeito aparentemente tímido e quieto escondia  um homem inteligente, sarcástico e muito engraçado. Muitas vezes Entwistle destruía quartos de hotel deixando a culpa recair sobre o bandmate Keith Moon e também filmou uma cena memorável para o documentário "The Kids Are Alright", onde utilizava uma metralhadora para destruir alguns discos de "ouro", simplesmente hilário.
     John Entwistle morreu no dia 27 de junho de 2002 em Las Vegas, aos 57 anos, de ataque cardíaco na véspera do início da turnê americana,deixando muita saudade e um respeitável legado musical que além de influenciar baixistas por décadas estará  no coração de cada fã. Em uma época em que falsos ídolos do rock usam ridículas calças coloridas vale a pena lembrar de um músico que não servia apenas para segurar o instrumento, mas sim extrair dele o melhor som possível contribuindo assim, para que o rock'n'roll evoluísse tornando-se parte da cultura popular e da ideologia de milhões de pessoas. Muito obrigado John.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Filosofia, Porrada E Sabonete


     Clube da Luta, o nome desse filme fez com que por muitos anos eu não quisesse assisti-lo. Pensando tratar-se de um filme violento e sem sentido (erro cometido até hoje por muitas pessoas que conheço)  eu esnobava a fita na locadora. Entretanto como as coisas boas da vida acontecem de repente fui surpreendido no ano 2003 em uma exibição do filme na tv.
     Vendo a obra prima de David Fincher tive uma experiência cinematográfica inusitada e reveladora. Lançado em 1999 o filme nos leva a reflexão sobre o vazio existencial que sentimos nos dias de hoje e mostra que as vezes o caminho deve ser aberto na porrada.
     Edward Norton interpreta um narrador sem nome (Jack???),  funcionário de uma empresa de seguros ele viaja por todos os EUA e sofre de insônia. Seu único prazer é fazer compras ( a cena em que a página do catálogo aos poucos se transforma em seu apartamento é soberba) e participar de grupos de apoio para pessoas doentes, nessas reuniões seu choro representa ao mesmo tempo seu desabafo e seu prazer fazendo com que ele consiga dormir novamente. Somente ao conhecer Tyler Durden (Brad Pitt), um vendedor de sabonetes, em uma de suas inúmeras viagens e ter seu apartamento destruído em um incêndio é que o Narrador passa a ter uma nova visão da vida.
     Forçado a morar com seu novo e peculiar amigo em uma casa em ruínas aos poucos o protagonista passa a deixar de valorizar o luxo de outrora e avaliar mais seus sentimentos,seus pensamentos.Juntos eles fundam o Clube da Luta que não consiste apenas em trocar socos com outro homem mas em se sentir vivo, sair da letargia provocada por um sistema de vida capitalista. O discurso inteligente de Tyler proporciona a cada um dos membros do clube uma jornada de conscientização e introspecção: "Não tivemos Grande Guerra, nem Grande Depressão. Nossa guerra é espiritual". O filme caminha com a evolução do personagem principal a procura de si mesmo-uma grande surpresa do filme-  e do Clube da Luta que adquire poder,muda seu nome para Projeto Caos, se torna uma ferramenta de controle da sociedade infiltrando-se em diversas instituições e converge para um evento de grande magnitude que tem por propósito causar  um colapso no sistema financeiro, acreditem ou não, a base de sabonete. 
     Mesmo violento em alguns momentos o filme é muito interessante pelos embates psicológicos sofridos pelo Narrador, um bom diretor conduzindo uma história diferente de tudo que já foi visto no cinema(adaptada do livro escrito por Chuck Palaniuk), um ótimo elenco ( que ainda inclui Helena Bonham Carter, Meat Loaf e Jared Leto) e sua filosofia de que estamos todos dormindo precisando de um golpe para acordar e perceber que nossas vidas podem ser muito mais do que enriquecer executivos e comprar coisas que não precisamos.

domingo, 10 de outubro de 2010

O Garoto Da Motocicleta Reina...

  
  Rumble Fish (peixe brigão) é o nome dado a uma espécie agressiva de peixe, se enclausurado em um aquário, por exemplo, briga até com seu reflexo. Assim é o personagem Rusty James do filme "O Selvagem Da Motocicleta" (Rumble Fish, 1983), dirigido por Francis Ford Coppola.
     Interpetrado por Matt Dillon, Rusty James é líder de uma pequena gangue em uma decadente cidade insdustrial. Com a família desfeita pela morte da mãe e o alcolismo do pai, ele vive na sombra da reputação do irmão mais velho, que está preso em um reformatório, conhecido como "O Garoto Da Motocicleta". Tentando apenas sobreviver no meio desse caos e encontrar seu caminho Rusty James vaga pela cidade perdendo seu tempo com vadiagem e brigas. O único traço sentimental que ainda resta em sua vida é a namorada Patty (Diane Lane).
     A grande reviravolta da história acontece quando O Garoto Da Motocicleta (Mickey Rourke) retorna tentando dar ao irmão uma nova perspectiva para seu futuro. Misterioso e dizendo frases aparentemente sem sentido o motoqueiro cria uma aura de mistério ao seu redor e está disposto a sacrificar tudo para afastar Rusty da marginalidade. 
     O rumble fish do título também é o peixe da loja de animais da pequena cidade e simboliza a ira de Rusty James fechado em seu mundo de sofrimento. Vendo isso, seu irmão mais velho acredita que a liberdade é a solução para ambos, o que culmina no poético e emocionate final do filme
     Filmado em preto e branco( com algumas imagens coloridas) e contando com um elenco jovem e competente  o filme é adaptado do livro homônimo escrito nos anos 50 pela jovem e talentosa Susan E. Hinton. A fotografia em preto e branco, propicia a Coppola a chance de usar variações de luz para expressar os sentimentos de seus personagens e torna-se um diferencial em filme que por sua bela mensagem já merece ser chamado de genial.  

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O Nevoeiro Que Cega Todos Nós.

       Este post tem por objetivo fazer uma análise dos conceitos de dois filmes com temáticas semelhantes. São eles "O Nevoeiro" (The Mist, 2007) e "Ensaio Sobre A Cegueira" (Blindness, 2008), ambos adaptações de obras literárias de escritores consagrados ( Stephen King e José Saramago, respectivamente) e que nos levam a reflexão sobre aspectos sombrios da natureza humana.


     Em "O Nevoeiro" uma estranha e densa névoa toma conta do ar em uma cidade do interior e um grupo de pessoas fica isolado em um supermercado. Aos poucos alguns começam a sair, apesar da falta de visibilidade, o que encontram é a morte personificada em aterrorizantes e misteriosas criaturas. Com o passar do tempo e movidos pela necessidade de se manterem vivos, formam-se dois grupos ,um liderado por David Drayton (Thomas Jane) movido pela necessidade de sair de lá mesmo sabendo dos riscos e outro liderado pela Sra. Carmody (Marcia Gay Harden) uma fanática religiosa. 

     No filme "Ensaio Sobre A Cegueira", a população mundial é acometida por uma epidemia de cegueira, só que não convencional, ao invés de ter a vista turva as pessoas contaminadas "enxergam" apenas uma luz branca. No começo do contágio as vítimas dessa moléstia  são isoladas em um sanatório , com o passar do tempo e o alastramento da doença todos deixam de ser assistidos pelas autoridades passando a lutar por conta própria em busca de comida e proteção.
Conclusão
     O simbolismo da névoa e da cegueira clara significa que sem vermos o que está a nossa frente ou seja sem poder distingüir as coisas a nossa volta , sem ninguém para julgar, esquecemos todas as regras do convívio em sociedade e somos apenas guiados pelos instintos. Em "O Nevoeiro" o embate entre a razão e a fé nos faz pensar, o pragmatismo ou a esperança? Em "Ensaio..." é interessante acompanhar até que ponto as pessoas podem ser torpes em uma sociedade sem leis e os limites morais e éticos (prostituição, assassinato) que os personagens (sobretudo a Mulher Do Médico, interpretada por Julianne Moore) tem que romper. A questão essencial em ambos os filmes é: o que pode acontecer ao ser humano quando ocorre a falência de seu sistema e da vida como a conhecemos? O que é permitido fazer pela sobrevivência? Vamos apenas pensar nas respostas...     

A Inserção

  
     O mundo dos sonhos é deveras fascinante, nos domínios do nosso subconsciente habitam pensamentos que nos visitam durante o sono, causando em nossas mentes inúmeras confusões ( lugares que se misturam, pessoas que conhecemos mas tem outro rosto, etc) que nos fazem indagar sobre a natureza dos sonhos pois sonhando temos vislumbres de momentos felizes e também momentos de terror, os pesadelos. O mais interessante desse universo é a intensidade com que sentimos seus efeitos seja tentando lembrar o que se passou ou acordando com a sensação de que aquilo era real.
     Tentando elucidar alguns desses enigmas da mente humana (ou nos confundir mais ainda?) o diretor e roteirista inglês Chistopher Nolan concebeu A Origem ( Inception, 2010). Estrelado por Leonardo Di Caprio (Dom Cobb) a história parte do princípio de que é possível extrair idéias da mente alheia aproveitando-se da vulnerabilidade da mesma enquanto o indivíduo dorme. Usando esse método o protagonista trabalha fazendo espionagem industrial até que um novo desafio se apresenta, entretanto mais do que um trabalho pode ser a oportunidade dele reparar erros de seu passado.
     O trabalho consiste em inserir uma idéia ao invés de roubá-la e para tal Cobb terá que reunir os melhores profissionais do ramo de invasão de sonhos e ousar fazer coisas nunca antes imaginadas superando desafios que vão aparecendo em seu caminho. Para o serviço ele conta com a ajuda da jovem Ariadne (Ellen Page) construtora de cenários, Arthur (Joseph Gordon-Levitt) seu braço direito, Eames (Tom Hardy) um metamorfo, Yusuf (Dileep Rao) um químico e Saito (Ken Watanabe) o contratante que quer supervisionar "pessoalmente" o trabalho.
     Com uma história criativa e inteligente, cenas de ação bem filmadas e emocionantes, acompanhamos todo o planejamento e execução do trabalho da equipe de Cobb e durante as 2h e 19 min. do filme viajamos através de imagens poderosas (concebidas por ótimos efeitos especiais) rumo a um final arrebatador e aos mistérios ocultos nas profundezas da mente humana. E aí reside o poder do filme tentar compreender o incompreensível, ou seja, algo que nos causa estranheza e que ao mesmo tempo nos encanta tanto. Bons sonhos!!!