O quadrinista Stan Lee tem em seu currículo a criação de alguns dos maiores ícones das histórias em quadrinhos da segunda metade do século XX. Homem-Aranha e Hulk são apenas alguns dos personagens criados por esse visionário que sempre tentou dar aos seus personagens características que os aproximassem das pessoas comuns. A busca de Lee por um estofo realista às suas histórias culminou no ano de 1963 com a criação de uma HQ chamada X-Men em que mutantes desprezados pela sociedade lutavam por aceitação. O que tornava X-Men mais interessante era seu subtexto, ou seja, uma metáfora da luta dos negros pelos direitos civis e para tal a história utilizava personagens emblemáticos para simbolizar ativistas da época: enquanto Charles Xavier, representando o moderado Martin Luther King, almejava a igualdade entre humanos e portadores do gene X, seu amigo Eric Lehnsher também conhecido como Magneto, representando o radical Malcolm X, buscava a supremacia da raça mutante.
No ano 2000 o cineasta Brian Synger concebeu o filme X-Men que, mesmo mostrando pessoas com super-poderes, conseguiu dar um tom realista ao debate sobre preconceito. O sucesso do filme gerou 2 sequências ( eu ignoro o filme horroroso de Wolverine) que mostravam os embates ideológicos de Xavier e Lehnsher e agora em 2011 um prequel revela como os dois se conheceram e mostra porque, mesmo em lados opostos, eles mantem uma relação de respeito e afeto, trata-se do excelente X-Men-Primeira Classe (X-Men- First Class) dirigido por Mathew Vaughn. O início do filme se passa em 1944 e mostra o sofrimento de Erik em um campo de concentração na Polônia (o que inclui o assassinato de sua mãe) enquanto Charles vive em uma confortável mansão em New York e conhece a metamorfa Raven. Já nos anos 60 o télepata Xavier ( James McAvoy) é um professor de genética que é chamado pelo governo americano para auxiliar na captura do terrorista mutante Sebastian Shaw ( Kevin Bacon) e Lehnsher (Michael Fassbender) , que tem o poder de controlar o metal, viaja o mundo à caça de nazistas para concretizar sua vingança. Quando os caminhos de Erik e Charles se cruzam caberá aos dois liderarem a equipe de mutantes que deve impedir que Shaw e sua equipe destruam o mundo.
Mesmo que a trama seja simples o roteiro a desenvolve de maneira soberba pois contextualiza a história dos mutantes com a Crise dos Mísseis em Cuba, explora as motivações dos protagonistas, possui questionamentos existenciais ( sobretudo no arco de Raven, a Mística e Hank Mckoy, o Fera) e utiliza os mutantes recrutados por Xavier e Magneto para criar uma interessante discussão sobre a passagem para a vida adulta quando eles devem aprender a lidar com seus poderes e assumir responsabilidades. Todo o elenco é competente e tanto as cenas de ação quanto os efeitos especiais são fluentes com a história, com destaque para a cena em que Magneto levanta um submarino e a batalha final.
Uma das coisas mais legais é descobrir a origem dos personagens e observar os protagonistas de uma perspectiva diferente daquela apresentada nos filmes anteriores. Além disso estão no filme elementos essenciais como o Cerébro, o jato e mansão onde Xavier recolhe seus alunos e os ensina a conviver com seus poderes e a controla-los. Sem dúvida Primeira Classe é um dos melhores filmes do ano pois diverte e também nos faz pensar já que está na inteligência de seu roteiro seu maior mérito.Imperdível.
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