Muitas
vezes nos deparamos com esse questionamento e pensamos sobre como seriam nossas
vidas se em determinadas bifurcações e encruzilhadas de nossas jornadas
tivéssemos tomado um rumo diferente. A grande dúvida oriunda dessa questão
consiste em nunca termos a oportunidade de obter uma resposta satisfatória pois
não saberemos se a decisão tomada foi mesmo a melhor possível e, sendo assim,
só nos resta aprender a conviver com as consequências de nossas escolhas. Mesmo
que a questão título deste artigo seja inerente a todos nós individualmente, no
decorrer dos anos ela surge em âmbito coletivo com dúvidas acerca de
acontecimentos históricos. Como a arte é um reflexo da sociedade em que está
inserida, esporadicamente alguns cineastas, valendo-se do poder das imagens e
dos recursos narrativos proporcionados pela sétima arte para concretizar suas
visões, nos apresentam histórias cujo mote tem por objetivo nos apresentar uma
alternativa à celebres fatos históricos.
Diferente
dos filmes baseados em fatos que se apoiam em acontecimentos notórios e por
vezes tomam liberdades artísticas para uma melhor apresentação do resultado
final, os diretores Quentin Tarantino e Dany Boyle apresentaram 3 filmes cujas
premissas partem de um “e se?” para contar suas histórias e nos conduzem por
tramas capazes de nos apresentar a uma espécie de “universo paralelo” em que é
capaz vislumbrar o final antecipado da II Guerra Mundial, a atriz Sharon Tate
não sendo assassinada pelos membros da Família Manson e um mundo sem a existência
dos Beatles.
Lançado
em 2009, escrito e dirigido por Quentin Tarantino, o filme “Bastardos Inglórios” é ambientado na
França ocupada por nazistas em 1944 durante a II Guerra Mundial. Nesse cenário
entram em cena os “Bastardos” do título, um grupo de soldados de elite composto
por judeus americanos que utiliza-se de técnicas de guerrilha para impor terror
psicológico aos soldados alemães. Com a oportunidade de acabar com todo o alto
comando do Terceiro Reich durante a estréia de um filme sobre as proezas de um
jovem soldado alemão os Bastardos irão contar com a ajuda inesperada de um
Coronel traidor da SS para exterminar Adolf Hitler e seus auxiliares mais
próximos.
Já
em 2019 Tarantino lançou o filme “Era uma
Vez em...Hollywood” em que acompanhamos
as rotinas do ator decadente Rick Dalton (Leonardo Di Caprio), seu dublê
e melhor amigo Cliff Booth (Brad Pitt) e da estrela em ascensão Sharon Tate
(Margot Robie). Durante 3 dias do ano de 1969 esses personagens tão ligados ao
cinema mostram ao espectador toda a aura hollywoodana da época. Se em 9 de
agosto daquele ano o destino de Tate e de todos que estavam em sua casa foi
trágico quando foram assassinados por 3 membros da seita liderada por Charles
Manson, o filme Tarantino reserva à atriz um futuro tranquilo quando os
assassinos entram na casa ao lado e encontram Cliff junto de sua pitbull Brandy
e Rick dispostos a impedir que os seguidores de Manson obtenham êxito em sua
maligna empreitada. Como a vingança é um tema recorrente na filmografia de
Tarantino e a violência uma de suas características mais marcantes é através
deste elemento que esses dois filmes geram suas catarses e nos fazem, mesmo que
naqueles minutos, sentir a satisfação de saber que naquele universo as vítimas
do nazismo e de Manson estão a salvo.
Também
de 2019, com roteiro de Richard Curtis e direção de Danny Boyle, o filme “Yesterday” conta a história de Jack
Malick (Himesh Patel) um cantor e compositor que auxiliado pela amiga e
empresária Ellie ( Lilly James) tenta alcançar o estrelato. Depois que o mundo
todo sofre um apagão misterioso por 12 segundos, Jack é atropelado e ao
recuperar a consciência percebe que somente ele tem lembrança de muitas coisas
de nosso mundo como Coca-Cola, cigarros e principalmente a banda Beatles. Utilizando
sua memória Jack passa a “compor” as canções do quarteto de Liverpool e alcança a fama e sucesso que tanto
almejava. Engraçado nos momentos que o protagonista vai descobrindo aos poucos
que somente ele sabe sobre marcas famosas que fazem parte de nosso cotidiano e
tocante nos momentos musicais mais intimistas, Yesterday também levanta questionamentos morais quando Jack
percebe que seu sucesso não é fruto de seu talento e se ele é
merecedor de tudo que conseguiu utilizando as canções escritas por John
Lennon e Paul McCartney. Além de ressaltar a importância da banda um dos
méritos do filme de Boyle é nos fazer refletir sobre a ausência dela.
Enfim,
esses são apenas alguns exemplos da arte como transformadora da história e cabe
a cada um de nós aprender a conviver com nossas escolhas e também com escolhas
alheias que nos afetam diretamente. Como o questionamento é importante, mesmo
podendo aprender com os erros cometidos no passado e mesmo acreditando ter
tomado a melhor decisão sempre iremos nos perguntar “e se?”.